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Enviada em: 21/05/2019

Reduto de indígenas, brancos fugidos e negros escravizados, os quilombos foram a materialização da resistência à opressão de grupos explorados pela instituição do império colonialista na idade moderna. Contudo, a importância dos quilombos encontra impeditivos no cenário atual, configurando-se como uma das contradições mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento, apoiada em preceitos constitucionais, o que se deve a fatores como exacerbação econômica e negligência estatal.        Convém ressaltar, a princípio, que a sobreposição do viés capitalista, notabilizada nas disputas pela posse de terra, vai de encontro à manutenção dos quilombos remanescentes. Nesse sentido, a terra que, para os grupos quilombolas, asseguraria sua subsistência e preconização da cultura é reivindicada por grandes latifundiários e grupos empresariais que veem na produção agrícola um âmbito econômico legítimo de se sobrepor à identidade cultural do país. Tal realidade acomete a Constituição Federal, datada de 1988, que assegura a posse definitiva das propriedades, naturalmente, ocupadas por essas comunidades e evidencia concepções exploratórias arraigadas, reflexo de um passado colonialista.       De outra parte, é indubitável que a falta de desvelo do Estado torna-se campo fértil para a degradação dos quilombos hodiernos. Nessa perspectiva, de acordo com o filósofo Zygmunt Bauman, algumas instituições – dentre elas o Estado – perderam sua função social, mas conservaram sua forma a qualquer custo. Esse pensamento materializa-se quando é observada a situação das comunidades remanescentes no Brasil, muitas vezes, dissociadas das políticas públicas assistencialistas governamentais, nas quais prevalece a pobreza e a miséria, o que, de fato, não contribui com a manutenção cultural e evidencia o descaso com associações historicamente importantes.     Logo, é indubitável que a o descaso político e questão econômica ferem frontalmente as comunidades quilombolas. Para que se reverta esse cenário problemático, portanto, fica a cargo das Secretarias Municipais a consolidação de um projeto assistencialista a essas comunidades. Isso pode ser realizado por meio de parcerias público-privadas na construção de moradias adequadas e áreas de cultivo agrícola suficientes, a fim de assegurar a auto sustentabilidade do quilombo e a manutenção da cultura. É imprescindível, ainda, a demarcação efetiva das terras destinadas a esses grupos, por intermédio da visita periódica de agentes municipais, aplicando multas a alterações realizadas pela expansão da fronteira agrícola. Quem sabe, assim, poder-se-á transformar uma sociedade desenvolvida socialmente, longe de contradições perversas que remontam a um passado colonialista.