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Enviada em: 15/05/2019

A série Black Mirror é conhecida por explorar os efeitos das tecnologias. Nela, é mostrada a relação das pessoas com dispositivos e com a internet, expondo cenários cujas implicações do uso inadequado são extremas. Fora da ficção, mas ainda dentro do contexto cibernético, pode-se fazer um paralelo com os episódios, tendo em vista a facilidade do acesso à informação e a pouca capacidade de reflexão que se tem hoje em dia. Nesse sentido, percebe-se uma falha educacional em relação à preparação dos jovens para lidar com esses efeitos e a negligência dos internautas a respeito de limites éticos on-line, a qual pode trazer consequências nocivas que vão muito além do ambiente virtual.       A princípio, é importante ressaltar que as crianças não possuem capacidade cognitiva para filtrar o excesso de informações disponíveis na internet. Por essa razão, é necessária a implementação de uma educação digital. Desse modo, partindo de uma perspectiva sociológica, A. Giddens classificou a família e a escola como instituições responsáveis pelo processo de socialização das crianças. São elas as detentoras do dever de ensinar comportamentos e limites, a fim de que se formem cidadãos responsáveis e aptos a exercerem seus papéis sociais. Dentro desse espectro, o mesmo precisa ser feito com o ambiente virtual: as crianças têm de ser conduzidas por adultos preparados para que cresçam munidas de senso crítico e capazes de se portarem de maneira autônoma e segura nas redes.       Outro ponto a ser observado consiste no crescimento de discursos de ódio, o qual se firma sobre a diminuta capacidade de reflexão dos internautas. Sob esse viés, acredita-se que, quando se está atrás da tela de um computador, é permitido dizer tudo. Logo, discursos cheios de preconceito são propagados, culminando em aumento da violência e da intolerância na vida real. A respeito disso, de acordo com uma pesquisa publicada pelo jornal O Globo, 84% das postagens em redes sociais carregam conteúdo racista, homofóbico e misógino, dado que traduz bem a restrição da reflexão das pessoas on-line. Dessa maneira, urge resgatar a ética nesse cenário, pois, segundo o imperativo categórico de Kant, sendo os seres humanos seres racionais, possuem o dever de agir eticamente.       Fica claro, portanto, que para tornar a internet um ambiente consciente, medidas são necessárias. Uma delas se refere ao Ministério da Educação incluir na ementa escolar a educação digital. Isso pode ser feito por meio de palestras ministradas por profissionais de tecnologia da informação, abrangendo pais e alunos e explorando as ferramentas on-line, de modo a ensiná-los a entender o funcionamento da internet e prepará-los para lidar com esse universo. Ademais, empresas donas de redes sociais devem criar algoritmos que abram janelas questionando se o que será postado ofende alguém, a fim de incitar maior reflexão. Assim, as consequências nocivas ficarão presentes apenas em séries.