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Enviada em: 09/06/2019

Elas não têm gosto ou vontade, nem defeito, nem qualidade... não têm sonhos... se encolhem, se conformam e se recolhem. Tal trecho é parte da música ''Mulheres de Atenas'', de Chico Buarque, e faz menção a subserviência matrimonial e à posição de inferioridade ocupada pelas atenienses. Para além da antiguidade clássica, vale refletir sobre a realidade e a sensação de déjà-vu que o mercado de trabalho brasileiro causa frente ao sexo feminino apesar dos avanços conquistados sobre o sangue e suor de milhares de mulheres que buscam a isonomia de gênero. Dessarte, emergem como principais agentes desse roteiro retrógrado, a obsoleta fragilidade do sexo masculino ao ter que se reportar a mulheres como líderes, além do autoboicote inconsciente, ocasionado por um imaginário coletivo à ateniense, que faz as mulheres imergirem nesse caldo cultural tóxico.                                                       Precipuamente,  a questão do machismo no labor é banalizada e pouco se faz para inverter a situação. Apesar de ser um cidadão ateniense, em seu livro ''A República'', Platão deixa claro que acredita que homens e mulheres, em um Estado ideal, devem ser considerados iguais, inclusive no que se referia a ascensão a cargos de chefia. Apesar de tal conclusão platônica, a classe masculina, inúmeras vezes, mostra-se irredutível ou desconfortável ao serem submetidos a situações de trabalho em que mulheres lideram, causando certo incômodo e levando à ineficiência ou desistência de algumas mulheres. Nesse sentido, faz liame à questão a pesquisa científica realizada por uma sociedade de psicologia apresentada na revista M de Mulher, que corrobora com tal perspectiva machista.                                 Da mesma maneira, a descrença em si mesmas leva muitas mulheres à inércia. A série distópica, The Handmaid's Tale, trata de uma sociedade que sucumbiu ao fanatismo religioso cristão extremista e ao totalitarismo político, sendo dividida em castas e comandada por homens, as mulheres eram loteadas e nada em si lhes pertencia, desde sua mão de obra até o direito sobre seu corpo e seu útero. Sob essa conjectura, muitas acabavam ligando seus mecanismos naturais de fuga ecológica e entravam em tanatose, bem como na coletividade hodierna, onde, frente à desvalorização de seus esforços, muitas mulheres acabam algemadas à sensação de incapacidade, impedindo-as de sequer tentar algo melhor.   Por conseguinte, é impreterível que o Estado, aja na linha de frente no que diz respeito à mulher no mercado de trabalho. Dessa forma, urge a criação de uma campanha pelo ministério da mulher e do trabalho para que sejam criadas vagas de liderança em locais público e privados sob incentivo fiscal, com a salvaguarda do Estado contra o preconceito, para que, assim, a mulher sinta-se capaz e o sexo oposto adapte-se e respeite não só a mulher como líder, mas como igual. Levando à exclusão da imagem ateniense e fazendo jus às espartanas guerreiras, que eram e estavam onde quisessem.