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Enviada em: 24/08/2019

A série da Netflix "The Society" retrata uma situação hipotética em que os habitantes de uma cidade desaparecem, deixando aos jovens a responsabilidade de reorganizarem a estrutura social em prol de sua sobrevivência. Apesar de ficcional, a dificuldade e o despreparo dos jovens quanto à conduta cidadã se assemelham em muito à realidade do Brasil. Tanto a passionalidade exacerbada quanto o desconhecimento dos deveres e direitos dos cidadãos, aspectos corroborados culturalmente, implicam em um ineficaz engajamento político da juventude.            Sob tal ótica, a inconstante postura do brasileiro diante do cenário político das últimas décadas reafirma a tese do sociólogo brasileiro Sérgio Buarque de Holanda. Segundo ele, a "cordialidade do brasileiro" possui sentido não de gentileza, mas de passionalidade: a emoção é superior à razão, o que gera a dicotomia euforia versus frustração. Inserido nesse meio, o jovem possui sua visão política contaminada, além de, por vezes, sofrer influência de um discurso pessimista disseminado pela família, o que reproduz nele uma mentalidade passiva que parece não enxergar possibilidades de mudanças.            Ademais, a representatividade, quando não explicada e debatida, pode conferir um fator que contribui para o sentimento de indiferença dos jovens. O desconhecimento a respeito de suas responsabilidades e direitos enquanto cidadãos potencializa a confusão mental dos adolescentes, que possuem acesso a divergentes informações sem o direcionamento necessário. Uma vez que não conhecem sua função na estrutura social, não conseguem assimilar uma relação de causalidade entre suas tentativas de impor-se politicamente e uma mudança no cenário nacional, o que cria na jovem geração um estigma repulsor quanto ao "fazer política".           Infere-se, portanto, que medidas devem ser tomadas em prol da construção do engajamento jovem na política. Logo, cabe à família, enquanto instituição social de maior influência sobre a construção do indivíduo, o estímulo à leitura e às reflexões políticas, de forma que estes elementos, uma vez inseridos na rotina do jovem, tornem sua visão mais objetiva e familiarizada e, assim, haja respaldo para a autonomia de opinião e posicionamento. Além disso, os professores de escolas estaduais, em um projeto de "roda política" voltado para os alunos do ensino médio, devem debater a respeito do exercício da cidadania - os direitos e os deveres -, bem como a correlação com a representatividade quanto ao poder público. Assim, construir-se-á um novo padrão cultural de participação política na sociedade jovem do Brasil.