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Enviada em: 24/07/2019

No Brasil, em decorrência da falta de criticidade de muitos cidadãos, tornou-se corriqueira a compreensão de que o "jeitinho brasileiro" não afeta a dinâmica atual. No entanto, embora essa perspectiva permaneça no senso comum, naturalizando esse modo de pensar, é preciso notar o quanto esse ponto de vista é ingênuo ao desprezar aspectos socioculturais e históricos.   O uso de um caminho alternativo para benefício próprio, mesmo que banalizado, é um crime. É uma forma camuflada de corrupção . Faz parte da identidade nacional. Esses entendimentos sobre a deturpação de princípios, mesmo que simplistas, tendem a ressaltar fatores como "furar fila" e "colar" em provas. Em geral, quando a sociedade não se predispõe a assumir posturas críticas e sensatas, toda a atualização de valores fica propensa a exaltar padrões de conduta nocivos e desvirtuados que banalizam tal problema. Como se não bastasse, há de se atentar, também, à forma perniciosa como diversos segmentos sociais se comportam diante desse assunto, subestimando o efeito de negligenciar a corrupção básica, mas criticar a de políticos. Portanto, essa questão tem a capacidade de agredir o presente e violentar o futuro.  Por conta disso, no debate acerca da exaltação de um método de se sair melhor que outros de algumas situações, é preciso enfatizar a urgência do investimento em um maior senso de corresponsabilidade coletiva. Dessarte, em consonância com as ideias da Teoria da Coesão Social, de Durkheim, e do poeta John Donne, não se deve perguntar por quem dobram os sinos, deve-se notar que dobram por todos. Desse modo é possível evitar a proliferação de posturas meramente acusatórias que, além de desprezarem a atuação pouco eficaz ou inexistente de agentes públicos, também agenciam o aborto de sonhos e o assassinato de esperanças, ao passo que leis não são cumpridas por conta de uma naturalização do fenômeno. Sob essa égide, mais do que se eximir da culpa para apontar culpados, os brasileiros devem atentar-se ao seu poder de ingerência e resolução.   Sem dúvidas, quando restrita a fatores inoportunos, qualquer iniciativa contra o "jeitinho brasileiro" está fadada ao insucesso. Assim, faz-se necessário que o Estado, por meio da parceria do Ministério da Educação com mídias sociais, ensine as leis em instituições de ensino e divulgue-as, estimulando o desenvolvimento de criticidade para inverter o paradigma atual, garantindo a informação sobre a importância da honestidade da base social ao ápice político. Afinal, parafraseando o filósofo grego Heráclito, a mudança deve ser o princípio fundamental de tudo.