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Enviada em: 07/06/2018

Brás Cubas, personagem de Machado de Assis na obra que inaugurou o Realismo no Brasil, relata em suas “Memórias Póstumas” que não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado de miséria da humanidade. No entanto, apesar de ter sido escrita há mais de um século, a obra machadiana parece dialogar com o cenário brasileiro atual, visto que, hodiernamente, a herança deixada no âmbito do preconceito racial não é motivo de orgulho. Contudo, esse legado segue enraizado na cultura local e se manifesta pela violência à qual a população negra está exposta e pela criação de estereótipos negativos que dizem respeito à cor da pele.         Nesse contexto, é sabido que o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, tendo efetivado esse processo apenas em 1888. Dessa maneira, torna-se indubitável que o regime escravocrata teve influência na formação da identidade racista de grande parte da sociedade atual, que continua a reproduzir comportamentos provenientes da época colonial. Prova disso é que, segundo pesquisas do Fórum Brasileiro de Segurança, entre os anos de 2005 e 2015, 71% das vítimas de homicídio eram negras, mostrando que, apesar de apresentar raízes antigas, esse preconceito parece atemporal, posto que até os dias de hoje a população negra é alvo das mais diversas formas de manifestações violentas, sejam elas verbais ou físicas.         Partindo de uma outra vertente, ainda que apresentem uma cultura heterogênea, os brasileiros continuam silenciando os indivíduos negros nos registros históricos do país. Nesse viés, apesar da criação de leis que instituem o ensino da história africana na educação regular, os únicos representantes negros presentes na maioria dos livros são os escravos, demonstrando, dessa maneira, um pensamento eurocêntrico e de exclusão de importantes figuras que participaram de grandes processos do país, a exemplo de Ernesto Carneiro Ribeiro, linguista responsável pela revisão gramatical do primeiro Código Civil Brasileiro. Tal silenciamento corrobora para a disseminação e perpetuação de estereótipos negativos que precisam ser extintos.        Mediante o exposto, faz-se necessária a adoção de medidas que solucionem o problema vigente. Destarte, cabe ao Governo criar leis que estipulem multas e sansões severas às pessoas que cometem crimes baseando-se na cor de pele de um cidadão. Outrossim, é conveniente que a mídia, em parceria com as escolas, difunda uma cultura antirracista por meio da criação de campanhas e projetos que mostrem à população a importância do negro no processo de construção do Brasil, a fim de disseminar seus grandes feitos pelo nosso país. Quem sabe assim, o pensamento de Brás Cubas não se perpetue e o legado brasileiro se torne motivo de orgulho para toda a nação.