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Enviada em: 30/07/2018

O racismo brasileiro na internet: uma verdade nada conveniente.       Passados mais de um século desde a abolição da escravidão, pode-se dizer que o Brasil ainda não é um país liberto. Pelo menos não de algumas convicções ideológicas construídas em mais de quinhentos anos de discriminação racial. Basta recordar que, em pleno ano de 2018, ainda há quem faça piadas racistas e comentários de ódio a afrodescendentes, a exemplo do caso de um estudante de uma faculdade paulistana, chamado de "escravo fugido da senzala" por colegas nas redes sociais; ou da situação envolvendo a filha de um casal de atores flumineneses, vítimas de comentários de ódio na internet.       Embora muito se discuta a respeito do racismo nas escolas e na mídia, uma verdade, mesmo que inconveniente, é que o Brasil ainda é um país racista, especialmente no que se refere às populações com raízes africanas. E pior, ao que parece, em tempos de ampliação do acesso à informação, movimentos discriminatórios têm ganhado, infelizmente, mais espaço e força, algo inconcebível no contexto da globalização e do aumento dos fluxos migratórios no mundo.        Nesse sentido, a aparente "terra sem lei" da internet, aliada à educação precária na sociedade brasileira, parecem se combinar de maneira fatal para o aumento dos casos de racismo no Brasil, algo contraditório, pelo menos do ponto de vista estatístico, quando considerado que mais da metade da população se considera "negra ou parda", de acordo com dados do IBGE.           Mas, afinal, como combater o racismo na sociedade brasileira?          Como dito certa vez por Paulo Freire, "se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda". Assim, a educação surge como um importante instrumento no combate ao racismo. Por meio da atuação conjunta dos Ministérios da Justiça, da Educação e de  organizações de movimentos afrodescendentes e socioculturais, é preciso que se construa um amplo projeto de mudanças nas bases da educação em todos os níveis, estimulando-se assim o debate sobre o preconceito racial, sobre a dignidade humana e sobre a identidade do povo brasileiro.        Ao mesmo tempo que se atua pela frente da educação, é preciso também se combater o preconceito na internet. Através de uma atuação conjunta das polícias federal, estaduais, Ministério da Justiça e o Poder Judiciário, podem ser criadas delegacias e órgãos especializados, atuando com foco no monitoramento das injúrias raciais e crimes de ódio na internet, buscando-se assim a responsabilização de organizações ou indivíduos que façam apologia a quaisquer formas de racismo.