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Enviada em: 06/07/2019

Yagnsze Choo, autora do livro "A Noiva Fantasma", descreve sob o misticismo malaio a dura realidade vivida pelos sem-teto mesmo após a morte. Nesse contexto, essa precariedade narrada por Li Lan - protagonista do romance - reflete, na contemporaneidade, a situação da população de rua no Brasil. Esse cenário depreciativo não só é fruto de uma seletividade coletiva, mas, também, de uma condição de abandono social oriunda do Estado.   Destarte, para Marshall Berman, filósofo estadunidense, a modernidade une o homem, porém é uma unidade paradoxal, uma unidade da desumanidade humana. Sob essa ótica, é notório que a invisibilidade dos moradores de rua é um processo que resulta desse paradoxo e manifesta-se na indignação seletiva. Uma vez que diante as dificuldades enfrentadas por esses brasileiros não há um sentimento de comoção e repúdio advindo do corpo coletivo, seja ela pelo estado desumano em que vivem esses sujeitos, seja pela natureza violenta do ambiente citadino ao qual eles estão expostos. Esse panorama, no entanto, fortalece a marginalização desses indivíduos, tendo em vista a tendência tupiniquim em ocultar as mazelas da nação em prol do ideário de sociedade perfeita.   Além disso, segundo John Locke, filósofo inglês, a dignidade humana é qualidade intrínseca ao homem, capaz de lhe dar direitos por parte do Estado. Sob esse viés, depreende-se que o direito à vida digna não é totalmente garantido pelo país. Haja vista a carência de ações públicas - como investimentos em abrigos de qualidade -  que incluam essas pessoas na sociedade e as protejam da violência urbana, já que seu status, ao ser associado ao crime ou ao vício, os priva de oportunidades para garantir certo equilíbrio financeiro e, por fim, conquistar a retirada das ruas e alterar seu estilo de vida vigente. Ademais, essa condição implica na redução da qualidade de vida das cidades, visto que há o aumento da criminalidade por consequência dessa privação da atividade laboral.   Infere-se, portanto, que a questão dos sem-teto no Brasil é oriunda de aspectos sociais e políticos. Em primeiro plano, é função do seio escolar, como órgão formador de personalidades humanas, realizar atividades que fomentem a empatia nos jovens e crianças, por meio da atuação conjunta de pais e professores em gincanas de aprendizado, com o intuito de, gradativamente, amenizar os efeitos da "indignação seletiva" da sociedade atual e realizar mudanças para mentalidade acerca dos preconceitos sobre os moradores de rua do país. Por outro lado, cabe ao Ministério do Desenvolvimento Regional realizar investimentos em obras públicas nas diversas regiões do país, pela aplicação de capital adquirido de tarifas pagas pela população, com o afã de criar empregos para os residentes das vias urbanas.