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Enviada em: 02/10/2017

A prática da justiça com as próprias mãos se deve ao enfraquecimento da organização social. No Brasil, colecionam-se ações de justiceiros diante da falta de credibilidade no papel do Estado. Uma vez que o policiamento e a jurisprudência não são capazes de combater a violência e manter a ordem no país, grupos legitimados pelo desejo de vingança transitam sobre a linha tênue entre a democracia e a barbárie.       Segundo Émile Durkheim, quando os padrões sociais são quebrados, instaura-se a anomia, ou seja, estado caótico em que as leis perdem suas funções. Grupos doutrinadores da ordem, então, agem por meios próprios, para conter crimes, controlar grupos ou, até mesmo, o Estado. São movimentos extralegais que ignoram a lógica democrata da sociedade e se utilizam de linchamentos e vandalismos.       Esquece-se de que o direito a um julgamento coerente e objetivo, amparado pelo sistema judiciário, foi conquistado historicamente, para garantir decisões livres de motivações pessoais ou impetuosas. Caso contrário, os pseudo-justiceiros também cometeriam crimes ao sentenciar pessoas inocentes, como ocorrido em Guarujá, com a morte de Fabiane, injustamente acusada de sequestrar crianças.        O direito de agir contra a ausência ou ineficiência do controle do governo é genuíno e justo. Porém, operar como tal compromete a ordem da democracia vigente e  a clássica noção Weberiana de que o Estado detém o monopólio do uso legítimo da força. Por isso, poderes paralelos estabelecidos por linchadores devem ser combatidos, evitando o aumento da criminalidade e favorecendo o convívio social.       O Brasil precisa, hoje, de reformas profundas para diminuir todo tipo de violência. Enquanto Estado, é imprescindível que o governo adquira a confiança do seu povo, elaborando novas estratégias que o torne eficiente no combate às injustiças. Ao Poder Legislativo, cabe revogar normas que facilitam a impunidade. E, por fim, a população deve ser exposta a discussões que mostrem a falácia dos grupos de extermínio.