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Enviada em: 12/10/2017

"Infelizmente há momentos em que a violência é a única maneira de assegurar a justiça social". A frase de Thomas Eliot, elaborada no final do século XIX, atenta para uma prática bastante comum na atualidade brasileira: o ato de cometer a justiça com as próprias mãos. Em virtude de um país onde os direitos humanos são vistos apenas como escrituras de um papel cívico, utilizar-se da violência torna-se uma atividade cotidiana e moralmente aceita por uma camada considerável da população. É preciso, portanto, buscar meios de intervir nessa prática.         A princípio, vale ressaltar que a ação de vingança é, muitas vezes, confundida como um ato de justiça. Obviamente, uma prática justa é aquela em que ambas as pessoas possuem direito de defesa e, é claro, segue os ritos do processo legal. Porém, os chamados "justiceiros" utilizam do linchamento para praticar a vingança contra aqueles que cometeram um crime bárbaro — assédio sexual e assassinato, por exemplo. Dessa forma, observa-se a ignorância desses tipos de pessoa ao acharem que a retaliação é uma das formas de justiça.      Outrossim, há uma constante preocupação sobre até que ponto a violência em conjunto pode chegar, já que, em muitos casos, a execução sumária vitimiza inocentes. Aldecir da Silva, morto a pancadas no Rio Grande do Norte, é um retrato fiel desse feito, haja vista que não possuía nenhum envolvimento com o crime e, além disso, era um homem pobre e morador da periferia; talvez por essas razões ele tenha sido confundido com um criminoso e, por conseguinte, foi deliberadamente morto. A partir dessa ocorrência, nota-se um preconceito enraizado na sociedade, pois, de acordo com Ariadne Natal, pesquisadora da USP, pessoas com as características de Aldecir configuram-se como perfis para serem vítimas de linchamento.          Destarte, fica evidente que a problemática é fruto de uma parcela da sociedade que desconhece o verdadeiro significado de justiça e, ademais, necessita de leis específicas para o seu combate. Logo, é imperioso que o Ministério da Justiça sancione projetos de lei que tornem o ato praticado pelos justiceiros um crime, com o fito de evitar o acometimento dessa nova infração, uma vez que tais atitudes levariam à cadeia. É mister, também, que o Ministério da Educação incremente — nas aulas de Sociologia das escolas — os ensinamentos dos direitos e deveres do cidadão, em respeito à Constituição brasileira. De mesmo modo, a mídia deve salientar, cautelosamente e sem sensacionalismo, as más consequências do linchamento para a sociedade, destacando a importância da diferenciação entre justiça e atos sem escrúpulos. Sendo assim, jovens e adultos terão mais ética, moral e respeito; a fazer, dessarte, que a frase proferida por Thomas Eliot fique presa ao passado.