Materiais:
Enviada em: 06/02/2018

No livro "Os Bruzundangas" de autoria de Lima Barreto nota-se uma crítica ao Brasil do século XX, por meio da criação de um país fictício, no qual a justiça é ineficiente o que leva os cidadãos a tomarem medidas de responsabilidade do Poder Judiciário, tal como ocorre na atualidade. Entretanto, mesmo que haja morosidade da lei e falhas na segurança pública, a justiça com as próprias mãos não é a solução. É necessário entender a problemática analisada por meio de suas causas políticas e educacionais e suas implicações sociais.               A observação crítica dos fatos históricos revela a ausência de um Estado forte, justo e punível, capaz de estar presente para garantir a segurança da população. A demora no julgamento dos processos revela a falência das instituições e, com isso, surgem os chamados "justiceiros" que assumem o papel da polícia e da justiça, em um quadro de total banalização da vida. Ora, segundo o sociólogo Max Weber, o Estado possui o monopólio legal da força física e jurídica o que, em tese garante a coesão social. No entanto, ao se fazer ausente perde seu domínio e abre espaço para a atuação da justiça com as próprias mãos o que leva a um quadro de desordem social. Ademais, frequentemente são noticiados casos de violência policial reprimindo a população com violência. Aqui jaz um dos maiores problemas do Brasil, uma justiça essencialmente punitiva e não educativa.             Diferentemente da justiça aplicada pelo Estado, a "justiça" do povo não comporta princípios e leis. Mesmo muitos séculos mais tarde, o Código de Hamurabi se faz presente na mente popular, com a Lei de Talião e o famoso "olho por olho, dente por dente", que sobrepõe-se aos 250 artigos da  Constituição. Tal autotutela popular é perigosa, afinal, nenhum princípio é capaz de conter um pai que viu seu filho ser morto, sua mulher estuprada ou sua casa invadida. Nesse momento o desejo é indiscutível: sede de vingança. Tal fato, relaciona-se com o que foi preconizado por Thomas Hobbes ao afirmar que "o homem é lobo do próprio homem", pois o ser humano, em seu estado natural tende ao mal e, para estabelecer a paz civil e a união social é preciso estabelecer um contrato social com um poder centralizado e forte que seja capaz de atenuar os conflitos e garantir a segurança do povo.            Dessa forma é pueril acreditar que assumir a função do Estado é um caminho viável. O Ministério da Justiça e da Cidadania deve aumentar o policiamento das cidades e acelerar processos em julgamento para que o Estado seja mais presente e atuante. Além disso, cabe ao Ministério da Educação difundir propagandas, tanto nas escolas quanto na mídia, abordando os perigos da justiça com as próprias mãos e difundir uma justiça educativa para que essa barbárie seja combatida e o estado de guerra hobbesiano superado.