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Enviada em: 26/07/2019

“O fato ainda não acabou de acontecer e já a mão nervosa do repórter o transforma em notícia”. O poema de Carlos Drummond de Andrade evidencia a disputa existente no ramo jornalístico. Analogamente a essa concepção, é perceptível na sociedade brasileira a influência das revoluções industriais no processo informativo. A ascensão do capitalismo priorizou os produtos e mercadorias em detrimento dos valores humanos. Percebe-se, portanto, que a isenção do compromisso com a verdade promove a disseminação de notícias falsas, o que é determinante para a formação de leitores alienados e reféns de uma ideologia partidária. A problemática oferece riscos à democracia brasileira e promove um descrédito cada vez maior em relação aos profissionais da comunicação.        Em uma primeira análise é preciso considerar o amplo poder de persuasão que as informações disseminadas pelo jornalismo atual possui. A mídia brasileira apresenta, majoritariamente, um conteúdo de fácil entendimento, o que facilita o processo da alienação social. Um estudo realizada pelo Instituto IPSOS revela que o Brasil é o quarto país que mais confia no conteúdo produzido por jornais e revistas. O resultado da pesquisa suscita apreensão, haja vista a falta de criticidade ao conteúdo exposto e aceitação imediata daquilo que é veiculado na mídia. O quadro se mostra consoante ao pensamento do filósofo prussiano Immanuel Kant, que alertava sobre os riscos do indivíduo inapto a discernir falácias do conhecimento verdadeiro e se distanciar do estágio da menoridade intelectual.       Outrossim, observa-se a prevalência do embate ideológico na sociedade brasileira, sendo este estimulado pelo acesso constante a notícias sensacionalistas. A dominação causada pela intensa credibilidade no jornalismo promove a imposição de valores como verdades inquestionáveis, o que gera conflitos entre os indivíduos. Segundo o filósofo francês Michel Foucault a verdade não pode estar vinculada a uma institucionalização para que não seja manipulada. No entanto, o contexto citado demonstra que com a ausência de uma discussão racional, os indivíduos permanecem aprisionados pelas próprias convicções e limitados à uma única vertente ideológica.       Portanto, é mister que o governo tome providências para amenizar o quadro atual. Na busca pelo cumprimento do Código de Ética do jornalismo, urge que o Estado, por meio da criação de leis, formule sanções punitivas para os veículos midiáticos que utilizem do sensacionalismo para disseminar notícias falsas. A medida deverá contemplar a criação cartilhas que instruam os cidadãos a identificar e denunciar práticas jornalísticas irregulares. Assim, com a extinção da alienação e o respeito à democracia, obter-se-á leitores conscientizados e a “ordem e o progresso” deixará de ser meramente um verso estampado na bandeira brasileira para se tornar uma realidade tangível.