Materiais:
Enviada em: 25/08/2018

O geógrafo brasileiro Milton Santos sabiamente apontou que a fragilidade dos indivíduos é apenas identificar o que os separa, e não o que os une. Em virtude disso, explica-se o porquê da adoção na sociedade brasileira permanecer uma chaga social, ao invés de uma medida profícua, uma vez que ainda há grandes exclusões silenciosas por meio da rejeição de crianças com determinados perfis no transcurso da adoção, associadas a grande demora na resolução dos processos adotivos.        Primeiramente, cabe ressaltar dados do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ao apontarem que 26% dos interessados em adotar só aceitariam uma criança branca, além de a maioria dos candidatos dar prioridade para crianças menores de 5 anos. Outrossim, há também a preferência pela não adoção de irmãos e o enorme menosprezo por crianças com alguma deficiência ou enfermidade. Assim, alarma-se o preconceito nacional com relação a algumas características específicas dos jovens dos cadastros de adoção, que podem causar impactos psicológicos graves aos pupilos e uma desesperança de encontrarem uma nova casa por consequência das devoluções aos lares adotivos e dos descasos frequentes .          Soma-se a isto a morosidade dos processos de adoção, que clarifica o porquê para cada criança na fila de adoção há seis famílias interessadas, mas mesmo assim, o fato de os orfanatos permanecerem cheios. Uma criança só pode ser adotada se o vínculo com os pais biológicos for desfeito, seguimento que segundo o estudo de 2014 da Associação Brasileira de Jurimetria, chega a demorar um ano, e mais um ano para a efetiva concretização do ato de adoção. Por conseguinte, essa lentidão desanima futuros pais adotivos de iniciarem o processo, diminui o número de interessados em adotar e afeta os adolescentes que aguardam nas listas de espera ao privá-los do direito a uma família e a uma convivência familiar saudável.        Destarte, cabe ao Ministério da Educação e ao ECA, por intermédio do direcionamento de verbas, promover fins de semana culturais na urbe, com palestras ministradas por assistentes sociais, promotores da Secretaria da Vara de Infância e Juventude e funcionários de lares adotivos, acerca dos efeitos do preconceito relacionados à adoção, para reverter as exclusões devido a determinadas características das crianças do processo adotivo e permitir que todos tenham um novo lar. Cabe também ao Ministério da Justiça criar mecanismos que agilizem a morosidade dos processos adotivos no Brasil, mediante o despache dos documentos diretamente para o juiz e a prevenção de não protocolá-los no fim do prazo, para resultar na eficiência e aumento das adoções. Assim,espera-se que possamos finalmente enxergar somente o que nos une, e não o que nos separa.