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Enviada em: 25/10/2018

Segundo a filósofa alemã Hannah Arendt em "A banalidade do mal", o pior mal é aquele visto como algo corriqueiro e cotidiano. Sob essa ótica, ao observar-se a situação da adoção de crianças e adolescentes no Brasil, percebe-se que o pensamento de Hannah é constatado tanto na teoria quanto na prática e a problemática segue intrínseca à realidade do país. Nesse sentido convém uma análise de como a burocratização e a seletividade  colaboram para o impasse.     A priori, a burocracia é um óbice. De acordo com a Universidade de São Paulo, 63% dos que esperam na fila de adoção acabam desistindo de adotar por conta da absurda demora dos procedimentos. Nesse bojo, é evidente a necessidade de uma desburocratização, para que os possíveis pais não encontrem grandes dificuldades ao adotar. Nesse ínterim, para Carlos Peraza, a burocracia é a arte de transformar o fácil em difícil.   Outrossim, a seletividade também causa barreiras. Segundo dados da Universidade de Brasília, a maioria dos adotantes procuram por crianças que tenham uma fisionomia predeterminada(branca, olhos azuis e sem nenhuma anomalia). Nesse viés, por conta de tal pensamento, o resto das crianças acabam sendo ignoradas por não atenderem às características convenientes aos adotantes. Nessa égide, para Zygmunt Bauman, na modernidade líquida as pessoas passaram a ser tratadas como produto.  Infere-se, portanto, que o Ministério da Justiça deve, por meio do Congresso Nacional, desburocratizar a legislação de adoção, com o intuito de dar facilidade aos que quiserem adotar. Desse modo, a taxa de desistência por demora sofrerá uma grande redução. Ademais, Para Paulo Freire, a educação muda as pessoas e essas mudam o mundo. Destarte, o Ministério da Educação deve, por meio de profissionais especializados, promover palestras e debates sobre a aceitação por parte dos futuros pais de qualquer criança, independente dela não apresentar as "qualidades" desejadas pelos adotantes. Dessa forma, os que adotam serão induzidos ao pensamento correto de que o amor independe de cor, raça e idade.