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Enviada em: 06/03/2018

Em 2013, a telenovela "Chiquititas" ganhou a atenção do público brasileiro ao abordar o cotidiano de jovens em um orfanato. Além da literatura, essa produção televisiva levantou importantes debates acerca do sistema de adoção no Brasil, que apresenta nítidos sinais de falência. Nesse contexto, fatores de ordem política, bem como social, caracterizam o dilema das adoções no país.    É importante pontuar, de início, as falhas administrativas no processo adotivo brasileiro. Marcado pelo excesso de burocracia, o sistema de adoção torna-se vítima de seu próprio mecanismo de funcionamento. Com a morosidade da justiça e a dificuldade de legalizar a situação das crianças adotadas, as famílias cadastradas passam anos na fila de espera e o número de jovens no sistema adotivo cresce rapidamente. Essa realidade caótica é ratificada por dados recentes do jornal Gazeta do Povo, que afirmam a existência de quase 6000 crianças aguardando a adoção, sendo que menos de 20% dessas conseguem ser acolhidas.    Outrossim, tem-se como grande impasse no sucesso das adoções as preferências das famílias interessadas. Como reflexo de uma sociedade ainda marcada pelo preconceito racial, diversas famílias negam a adoção de crianças negras e pardas, que correspondem à maioria dos jovens nesse sistema. Tal fator é confirmado por pesquisa de 2017 do Ecceja, que evidenciou que mais de 25% das famílias cadastradas aceitam apenas crianças brancas. Nesse sentido, a seletividade na hora da adoção confirma uma intolerância intrínseca na sociedade brasileira, que intensifica a marginalização do negro no país.