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Enviada em: 29/05/2018

Não é difícil imaginar esta cena: uma mulher jovem, ao ter relações sexuais, descobre que mesmo usando métodos contraceptivos, ficou grávida. Ao sentir que não seria capaz de criar um filho, resolve procurar clínicas de aborto e se depara em uma situação de risco e maus tratos, em que o próprio médico é o agressor. Esse cenário – retratado em 2005 pelo documentário “Clandestinas” - mostra de que forma as raízes cristãs ainda interferem na saúde pública do país, impedindo, inclusive, a legalização do aborto, gerando diversas consequências. Em primeiro lugar, é crucial analisar os motivos pelos quais o aborto é proibido no Brasil. O comitê do “Movimento Nacional de Cidadania pela Vida”, por exemplo, defende a existência a qualquer circunstância, em que até bebês frutos de estupro ou com anencefalia não podem ser abortados. Há também, posições contrárias à retirada do feto por questões religiosas e por se sentirem defensores da vida. No entanto, existe uma grande contradição no que diz respeito à existência, já que o mesmo comitê, em conjunto com o movimento “Pró-vida”, na verdade, causa mais consequências do que se houvesse a legalização do aborto. Nesse sentido, é imprescindível reconhecer os desastres que essa ilegalidade representa. De acordo com o Ministério da Saúde, morrem no Brasil, quatro mulheres por dia nos hospitais por causa de complicações no aborto. Essas, em sua maioria são pobres que não tinham condições para pagar um tratamento seguro e preferem colocar a vida em risco à ter uma criança naquela condição. Esses fatos só mostram que o país ainda tem muito que aprender com os demais em relação ao aborto, visto que a realidade mais próxima ao que vivemos é a da Arábia Saudita, um país demasiadamente atrasado no que diz respeito à mulher. É evidente, portanto, que a situação do Brasil em relação ao aborto ainda caminha muito devagar e precisa de mudanças. Cabe ao Governo brasileiro, seguir o exemplo do Uruguai, legalizando a prática abortiva até os três meses de gestação, no qual o feto ainda não está formado. Deve também exigir que as gestantes, antes de fazerem suas escolhas, tenham um prazo mínimo de cinco dias de reflexão, passando por psicólogos, para que nenhuma mulher tome decisões precipitadas e nem sofra com más condições de aborto. As escolas, por sua vez, podem trabalhar com campanhas informativas sobre métodos contraceptivos, alertando sobre os riscos de doenças sexualmente transmissíveis e uma possível gravidez indesejada, para tratar do problema desde a base. Só assim, que as mulheres da sociedade verde e amarela não serão mais taxadas de clandestinas quando tomarem uma decisão sobre o próprio corpo.