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Enviada em: 05/08/2018

O Estrangeiro,uma das obras mais célebres de Albert Camus, revela a condição de um indivíduo que ao agir de forma passiva diante dos fatos que o rodeia, sente-se "intruso" em sua existência.Tal perspectiva pode ser inserida no contexto da legalização do aborto, uma vez que  pressões culturais, religiosas e morais tiram o poder de decisão da mulher sobre seu corpo, obrigando-a à interrupção gestacional clandestinamente, prática essa, responsável pela 5ª causa de morte materna no Brasil.    Em primeira instância, é fundamental pontuar que a Constituição Federal prevê a legalidade do aborto nos seguintes casos:estupro,inviabilidade fetal e risco de vida materno-fetal.Todavia, mesmo diante de tais circunstâncias, há setores tradicionais da sociedade,sobretudo ligados à religião,que descriminam tal direito,haja vista a crença da concepção da vida no momento da fecundação. Diante dessa premissa, o corte de verbas pelo presidente norte-americano Donald Trump para organizações internacionais de planejamento familiar, que realizam procedimentos abortivos,  apenas reforça essa ideologia.    Contudo, tal perspectiva exclui os mais variados abusos vivenciados pela mulher em seu seio familiar, sobretudo, a Violência Simbólica,conceito do filósofo Pierre de Bourdieu caracterizado como a degradação moral do indivíduo através de insultos e pressões psicológicas,.Ademais,de acordo com Simone de Beauvoir, em sua obra O Segundo Sexo, dar poder de ação para a mulher é substituir sua condição de oprimida,tornando-a humana. Logo, a decisão de delegar o poder de escolha a mulheres sobre seu próprio corpo é um exercício de humanização.    Levando-se em conta os fatos supracitados, é possível inferir que apesar da legalização do aborto ainda ser um desafio, medidas como a criação de uma legislação mais flexível, permitindo a análise de cada caso.Além da construção de  novos centros de atendimento à mulher pelo Ministério da Saúde juntamente com a capacitação de profissionais como psicólogos ,médicos e palestrantes especializados no tratamento de questões ligadas ao aborto, possibilitaria uma maior autonomia à mulher e a formação de uma população cada vez mais consciente.