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Enviada em: 19/08/2018

Rejeição familiar, violência médica, utilização de instrumentos duvidosos e risco de vida. O cenário anteriormente descrito sintetiza a atual condição de uma grande quantidade de mulheres brasileiras que se submetem ao aborto ilegal.  Com a constante popularização da internet e a ascensão do debate em torno de questões sociais, a legibilidade da ilegalização do aborto vem à tona. Dessa maneira, é imprescindível analisar os impactos do aborto: seus números, suas causas e consequências.    Desamparadas pelo aparelho estatal e muitas vezes sem o necessário acesso à informação sexual preservativa, mulheres progressivamente recorrem a métodos alternativos para solucionar a questão da gravidez. Segundo um dos trabalhos de campo realizados pela Pesquisa Nacional do Aborto, cerca de 20% das mulheres brasileiras terão abortado de maneira ilegal, contabilizando um contingente de, aproximadamente, uma entre 5 mulheres na faixa etária dos 40 anos. Tais estatísticas destacam a urgência do debate em torno da procedência dos procedimentos, marcados pela presença de insalubridade e violência, naturalmente decorrentes da ilegalidade do ato.   Nesse contexto, a herança patriarcal brasileira torna-se evidente: a não-possibilidade da mulher exercer o livre arbítrio sobre seu próprio corpo evidencia o status de não-equidade e consequente deficiência na funcionalidade da democracia. Como resultado dos valores patriarcais fortemente consolidados no arcabouço moral da sociedade, o Estado pondera suas medidas públicas conforme preceitos não condizentes com as necessidades contemporâneas. De acordo com o pensador Habermas, é necessário que a pluralidade dentro de um organismo social seja levada em conta para solucionar questões públicas. Dessa maneira, sem a apropriada atenção do governo, grupos historicamente marginalizados - em especial, o de mulheres negras periféricas - tem sua condição perpetuada.   Sendo assim, é perceptível que os problemas que circundam o aborto abordam diferentes esferas da sociedade: sejam elas a de saúde, de moralidade, sociais ou históricas. Logo, medidas são necessárias para a resolução do impasse. É crucial o papel da grande mídia ao trazer o debate para o público, através, por exemplo, da introdução desse tema em programas de horário nobre, a fim de promover o processo de auto-reflexão da sociedade e fomentar suficiente comoção social para reivindicar mudanças profundas e estruturais não somente no Estado, mas na maneira de governar. É preciso também, por parte governamental, uma política mais eficiente de educação pública e distribuição de contraceptivos, a fim de diminuir os casos. Dessa maneira, as decorrentes inúmeras vidas perdidas pelo processo ilegal do aborto podem vir a ser evitadas.