Materiais:
Enviada em: 25/12/2017

No romance "Olhai os Lírios do Campo", Érico Veríssimo faz um relato da morte da garota Dora, na qual falecera vítima de um aborto clandestino mal sucedido. Situações como essa ainda persistem na sociedade brasileira atual. Tal problemática, dentre outras causas, está relacionada às falhas no ensino formal e no preconceito das pessoas quanto ao tratamento do tema.     Em primeiro lugar, o ensino público, em quase sua totalidade, é falho no que tange à educação sexual. De fato, boa parte dos educadores não possuem preparação ou metodologia necessária para trabalhar o conteúdo. A ausência de uma legislação que obrigue as escolas a praticarem esse ensino constitui na principal causa. Inevitavelmente, muitos jovens ficam privados de informações vitais para entender questões como a gravidez e o aborto, podendo chegar a essa situação tão delicada.     A consideração da sociedade em frente à interrupção da gravidez é outro fator que agrava o impasse. De maneira geral, há uma visão de que as mulheres que praticam esse ato são promíscuas e irresponsáveis. Entretanto, segundo pesquisas da Universidade de Brasília, dos cerca de um milhão de abortamentos realizados em 2015, quase 30 % deles foram feitos por mulheres em união estável e que usavam métodos anticoncepcionais. Percebe-se, então, que o desconhecimento da população acerca da complexidade do assunto e de seus detalhes pode favorecer o preconceito e a culpabilidade.     Fica claro, portanto, que a simples criminalização do aborto não resolverá uma problemática tão profunda. Sendo assim, faz-se necessário que a Secretaria de Educação treine os docentes para que estejam aptos a abordarem esse tema, podendo torná-lo obrigatório nas escolas. Dessa forma, os alunos terão mais acesso a esse importante conhecimento. Por outro lado, o Ministério da Saúde poderá criar cartilhas e campanhas na mídia tradicional e na internet, com o fito de esclarecer a sociedade acerca dessa discussão. Poderia fomentar, assim, um debate produtivo em prol de uma solução real e pragmática. Assim sendo, muitas Doras poderiam ser poupadas, evitando uma morte tão desnecessária.