Enviada em: 21/03/2018

No livro do autor Machado de Assis, o defunto-autor Brás Cubas se orgulha do fato de não transmitir o legado de nossa miséria, pois não teve filhos. A postura de grande parte dos brasileiros frente à legalização do aborto, ao não analisarem a situação com empatia, é uma das faces mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento. Com isso, surge a dualidade de opiniões que persiste intrinsecamente ligado à realidade do país, pelo sistema de saúde público precário e pela majoritariedade de um país católico.       "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas[...]". O trecho da Constituição Cidadã, promulgada em 1988 se contradiz com a realidade, uma vez que, um contingente alto de gestantes por não possuírem condições socio-econômicas, recorrem ao aborto ilegal, e, por conseguinte, debilitações em suas funções corporais ocorrem. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, estima que no mínimo 300 brasileiras morrem em decorrência das complicações de tais procedimentos.       Assim, pelas raízes católicas, a população ainda persiste em defender a vida acima de tudo. No entanto, a legalização do aborto também consiste nesse propósito, pois, a proibição não impedirá que continue ocorrendo de forma clandestina. Dessa forma,  a disponibilização de clínicas gratuitas e de qualidade, anularia consideravelmente os índices de quem recorre à maneiras arriscadas por não possuir condições de pagar pelo procedimento qualificado.       Infere-se, portanto, que tudo se baseia na perspectiva de saúde pública. Logo, o Ministério da Saúde, poderia em conjunto com psicólogos e psiquiatras fazer todo um acompanhamento com o paciente, para que este não se arrependa da decisão. A abertura de alas hospitalares voltadas para quem já realizou e possui sequelas e, com investimentos advindos dos impostos populacionais, contratação de funcionários qualificados, para que a mulher tenha a opção segura de deixar ou não, a miséria como legado.