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Enviada em: 26/02/2019

Na perspectiva romântica de José de Alencar, o índio é um herói nacional. Em obras como ''Iracema'' e ''O Guarani'', o autor elevou o brasileiro nativo ao posto de inspiração para suas narrativas de amor e aventura. Entretanto, no contexto atual, é lamentavelmente perceptível que a questão indígena no Brasil contemporâneo encontra-se distante do que o ícone da literatura brasileira idealizou no século XIX. Nesse sentido, os desafios e problemáticas desse quadro instigam o corpo social a refletir sobre os fatores que favorecem os obstáculos enfrentados pelos aborígenes tupiniquins. Assim, é lícito afirmar que, o Estado, com sua ineficiência administrativa, além da postura nociva de parte da sociedade civil, contribuem para esse revés.     Convém ressaltar, antes de tudo, que é ingênuo acreditar que o Governo cumpre seu papel no que se refere à questão. Apesar de existir, de fato, ações que visam estender o conceito de cidadania aos indígenas do país, como a instituição da reserva de cotas em Universidades públicas, apenas medidas pontuais dessa natureza são incapazes de promover um tratamento estatal digno aos povos antigos do território nacional, visto que, possuem um caráter reparador que não os ampara em esferas como trabalho e saúde. Prova disso é a quase inexistente mão de obra indígena no mercado de trabalho formal e a absurda carência de profissionais da saúde em localidades próximas a terras indígenas.    Outrossim, não há dúvidas de que a conduta muitas vezes preconceituosa de parcela da população colabora para a perpetuação de um estereótipo negativo do índio na sociedade. Ao longo do tempo, com o estímulo da mídia, criou-se uma imagem do indígena como um indivíduo não produtivo, destinado a manter-se em seu ambiente natural e sem interesse em colaborar com o país. Sob esse aspecto, John Locke diz: ''O ser humano é uma tela em branco que é preenchida por experiências e influências''. Desse modo, sem ser induzida a ver os habitantes nativos como pessoas dispostas a agregar, seja socialmente, seja culturalmente, a massa sofre um processo de alienação.    Faz-se evidente, portanto, que ações são necessárias para alterar essa conjuntura. Para que isso ocorra, a Fundação Nacional do Índio, em parceria com os Ministérios do Trabalho e da Saúde, deve elaborar, por meio de um amplo debate entre empresas, classe médica e Estado, um Plano Nacional de Atenção ao Índio, que deverá oferecer ao indígena vagas de emprego no mercado formal. Somado a isso, tal plano necessitará ofertar bônus salarial no Programa Mais Médicos aos profissionais que desejarem atuar em regiões que possuam terras primitivas. Ademais, é imprescindível que, em escolas e eventos culturais, a FUNAI realize palestras e mostras que tratarão do papel do índio na sociedade, que objetivarão mudar a concepção errônea sobre aqueles que um dia foram musos alencarinos.