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Enviada em: 11/04/2019

O índio Macunaíma, personagem do escritor modernista Mário de Andrade, é reflexo da estereotipização do indígena na sociedade brasileira. Personagem constituidor da identidade nacional, Macunaíma, em uma visão distorcida, é retratado como responsável pela herança de atributos negativos presentes na sociedade. Essa abordagem remete à uma aproximação com a realidade negligenciadora vivida pelas comunidades indígenas atualmente. Nesse sentido, uma análise sobre este panorama cruel se faz imprescindível em um país marcado pelo apropriação de terras inicialmente indígenas.     À princípio, a homogeneidade do índio corre sérios riscos com o avanço da fronteira agrícola. Apesar de estar previsto na Constituição de 1988, a demarcação de terras indígenas vem sofrendo várias ameaças com o conflito de terras na região norte. Com o avanço das lavouras para o centro-norte do país, propriamente demarcadas, instaurou-se uma área de atrito entre proprietários de terras e grileiros, cada vez mais sedentos por novas posses para a plantação. Sendo assim, o desrespeito desse direito afeta a manutenção dessas comunidades historicamente subjugadas com a chegada dos portugueses no Brasil.  Além disso, a ausência de representatividade indígena evidencia a persistência de dogmas segregadores. Na visão europeia do século XV, a colonização do território americano significava trazer o avanço para os povos inferiores. Essa visão, entretanto, foi pautada pela dominação e exploração do indígena, subjugando sua cultura e caráter social. Ainda hoje, a segregação de povos indígenas se faz presente no cotidiano brasileiro, evidenciando-se principalmente no Congresso Nacional, onde a representatividade política indígena não chega a 1% das cadeiras. Em contrapartida, as cadeiras mais presentes na casa, são de cunho agropecuário e de pesticidas agrícolas. Assim, a falta de vozes ativas corroboram a um cenário cada vez mais caótico.    Fica claro, portanto, que a questão indígena no Brasil necessita de reparos sociais. Para tal, o Ministério Público, junto à Funai, devem ter uma maior autonomia sobre o controle das demarcações de terras indígenas, afim de punir e garantir os direitos previstos na Constituição aos índios, garantindo a preservação deste patrimônio histórico-cultural. As escolas, por sua vez, incluir conteúdos sociológicos e históricos sobre a identidade nacional em suas grades curriculares, para que assim, o dogmatismo preconceituoso e segregador seja combatido. Talvez assim, o outro lado da história possa ser realmente reconhecido pelos leitores de Macunaíma.