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Enviada em: 01/11/2017

No romance 1984, o escritor George Orwell cria uma sociedade infernal. Ou seja, um organismo totalitário que controla todos os atos, gestos, palavras e pensamentos dos indivíduos. Há a figura do Big Brother (O Grande Irmão), que, pela mentira e pelo medo, domina o estado de espírito da população. Em uma analogia à narrativa de Orwell, compreende-se que ao discutir-se sobre a redução da maioridade penal no Brasil, a ficção imita a realidade, uma vez que a condição de miséria e marginalização para alguns, gerada pela sociedade pós Revolução industrial, pode deter do controle dos atores sociais e os levar à realizar transgressões.    É imprescindível, em uma primeira abordagem, compreender as analogias implícitas em um dos romances mais citados do século XX. A partir desse contexto, cabe analisar que, na obra, ninguém viu o Grande Irmão em pessoa, ou seja, o tirano mais dominador é, também, o mais abstrato, semelhante às desigualdades sociais existentes no Brasil, onde, até as necessidades básicas, como saúde e educação são ausentes para a maior parte da população, assim, o menor, vítima dessa sociedade, vê como única perspectiva de vida, a criminalidade. Além disso, vê-se a mídia como uma influenciadora no fortalecimento do desejo social pela redução da maioridade penal ao atender os anseios dos indivíduos pela narração do crime, o que incute a vontade errônea de justiça. Logo, percebe-se que atender essa demanda é um paliativo, já que existe crise no sistema prisional e as desigualdades e a consequente criminalidade continuariam existindo.     Nessa perspectiva, cabe avaliar os efeitos desse processo, à luz da concepção sociológica de Zygmunt Bauman. Segundo o pensador, na obra "Modernidade Líquida", o individualismo é uma das principais características da modernidade e, por conseguinte, o egoísmo e a liquidez nas questões sociais leva uma parcela da população a ser incapaz de compreender as necessidades coletivas. Esse problema se destaca em áreas específicas no Brasil, onde, apesar de ser considerado um país altruísta, tem se mostrado intolerante para práticas de auxílio à pessoas em condições de desagregação familiar e falta de oportunidades.     A fim de garantir, portanto, a harmonia social, são necessárias transformações na sociedade. O Estado deve, então, promover ações que visem diminuir as desigualdades sociais, como o imposto progressivo e medidas assistencialistas, por meio de incentivos dos governos para que as empresas contratem os jovens de baixa renda. Ademais, cabe também aos governantes investir em educação básica, para que os indivíduos possuam perspectiva de vida, evitando que vão para o caminho da criminalidade. Com essas ações, acredita-se que o alerta ficcional de Orwell seja compreendido.