O autor pré-modernista Lima Barreto, em sua obra "O Triste Fim de Policarpo Quaresma", retrata a vida de um coronel que era apaixonado pelo Brasil e defendia que a língua tupi deveria ser o idioma oficial do país, tamanho nacionalismo. Contemporaneamente, a conjuntura social brasileira vai de encontro ao pensamento de Quaresma, visto que é evidente o complexo de vira-latas. Esse panorama se deve à ineficiência do Estado e à falta de valorização da cultura nacional. Em uma primeira análise, sob a ótica política, a ausência de um Governo provedor de todos os direitos da população gera um sentimento de indignação nos indivíduos. Isso porque, após tantos casos de corrupção e impunidade, a sociedade se encontra em um cenário de descrédito, o que infere em graves consequências no que se refere às eleições, em que discursos extremistas tem ganhado voz. Essa realidade social está de acordo com o pensamento do educador brasileiro Paulo Freire, pois segundo ele: "Num país como o Brasil, manter a esperança viva em si é um ato revolucionário". Dessa forma, o sentimento de inferioridade em relação aos outros países permanece interpenetrado na sociedade brasileira, o que aponta para a imprescindibilidade de mudanças. Outrossim, segundo o sociólogo francês Émile Durkheim, o ser humano é o produto do meio em que vive, sendo a sociedade responsável por nortear sua conduta. Indubitavelmente, a falta de visibilidade e valorização da cultura brasileira em detrimento à estrangeira, torna cada vez mais difícil o sentimento patriota. Nesse sentido, os brasileiros são influenciados, todos os dias, pela cultura do exterior, sendo ensinados desde pequenos a valorizar o que vem de fora, e, sem serem estimulados a consumir a cultura nacional, se torna inevitável, de acordo com o pensamento de Durkheim, que haja o complexo de vira-latas. Dessa maneira, a sociedade aprofunda-se num contexto de culto ao estrangeiro, o que torna urgente a superação dessa grave conjuntura. Urge, portanto, que medidas sejam implementadas para mitigar essa problemática. A fim de combater o grave cenário de inferioridade brasileira, o Estado, em conjunto ao Ministério Público, deve promover políticas de combate à corrupção, destinando maiores verbas para operações como a Lava-jato, e estabelecendo maior apoio ao Judiciário, para que assim os indivíduos possam acreditar novamente na democracia. Concomitantemente, o Ministério da Cultura, com auxílio dos Governos Estaduais e Municipais, deve ampliar o acesso à cultura brasileira, por meio da criação de um Vale Cultura, de valor simbólico, para toda a população, visando aumentar a visita aos museus, teatros e o contato com a literatura nacional. Com isso, construir-se-á uma sociedade em que o complexo de vira-latas não seja uma realidade.