Materiais:
Enviada em: 03/11/2018

O "complexo de vira-lata" é uma tendência de manifestação cultural nitidamente expressiva na classe popular de baixa renda da sociedade brasileira, que não se enquadra nos padrões impostos pela elite. Esse termo foi cunhado pelo jornalista e escritor Nelson Rodrigues, como síntese de uma característica que surge antes do país consolidar-se em território político-nacional delimitado. A priori, a colonização dos portugueses propunha a civilização da população indigenista inicial, que se alocava no território latino-americano, pela catequização jesuítica e pela domesticação laboral. A posteriori, africanos são trazidos, sob regime de escravidão e tortura, para fomentar o lucro dos colonizadores por meio da monocultura de açúcar. Por conseguinte, a "política de branqueamento" foi a primeira aplicação de uma suposta "inferioridade" intelectual e cultural dessa população que se miscigenava.        Lato sensu, essas medidas deturpadas por uma pseudociência biológica, visavam desvalorizar a cultura e o que era feito nacionalmente, para manter a submissão do país ao eurocentrismo. Nesse sentido, as manifestações tipicamente africanas, como a capoeira, eram proibitivas na legislação brasileira, por serem consideradas inferiores e indolentes. Doravante, o historiador Sérgio Buarque de Holanda define a cordialidade como matriz nacional, pela dificuldade de discernir acerca das relações públicas e privadas, em busca de dissolver as substanciais barreiras das desigualdades que paralelizam-se nas classes sociais do Brasil. Essa tendência é permeada pela prática da corrupção em todos os setores civis e políticos, deturpando a visão de um país justo e democrático.        Consoante a isso, os grupos indígenas que sobreviveram ao massacre colonizador permanecem discriminados e segregados pela visão primitivista de uma sociedade que não reconhece sua dívida histórica, devido a dizimação das múltiplas etnias. Não raro, os mais "letrados" culpabilizam os manifestações populares por um atraso econômico e cultural que é arraigado à crença de um grande número de brasileiros, desconhecedores da pluralidade artística nacional, que promovem ao futuro um engrandecimento utópico da identidade do país, para distingui-lo no cenário mundial.       Em síntese, a cultura brasileira necessita de impulso e expressividade, não a letrada e intelectual, mas a popular. Portanto, o Ministério da Educação e o da Cultura devem promover políticas regionais de valorização das manifestações comunitárias, histórico-geográficas da população. Isso pode ser feito pela implementação de Centros Culturais de valorização do teatro, da música e das festividades locais, com a oferta de cursos gratuitos voltados para a prática artística e a continuidade da transmissão desses ensinamentos. Essa medida, além de fortalecer a identidade cultural das comunidades, proporcionaria a oferta de empregos e de lazer à população, mudando o cenário local (e o nacional).