Materiais:
Enviada em: 27/05/2018

Iracema, personagem do romance indianista de José de Alencar, dá ao filho o nome de Moacir, filho do sofrimento. No Brasil atual, séculos mais tarde, parturientes continuam sofrendo pois transparece no país, mediante fatores socioculturais e técnicos, uma problemática tangente à violência obstétrica, submetendo mulheres a humilhações, procedimentos médicos desnecessários e, não raro, desumanos na sala de parto. Em primeira análise, é profícuo salientar que o endeusamento dos profissionais da saúde é uma das causas da problemática no Brasil. Sob essa ótica, somando-se uma conjuntura de valorização da ciência pela sociedade que, por isso, cede autoridade inquestionável aos médicos à uma cultura de ritmo acelerado, em que se prioriza a economia de tempo em detrimento da humanização dos atendimentos, observa-se a criação de uma hierarquia em que as pacientes são oprimidas e submetidas à procedimentos desnecessários, como mostra os elevados números de cesarianas dispensáveis. Outrossim, a histórica desvalorização da mulher contribui para a continuidade dessa violência. Nesse sentido, não obstante os direitos das gestantes no momento do parto sejam garantidos pela Constituição, o que se observa vai de encontro com essas normas, visto que o conhecimento da mulher sobre o próprio corpo e seu poder de autorizar certas intervenções são negligenciados, sendo, dessa forma, constantemente submetidas à humilhações e procedimentos que podem deixar sequelas permanentes. Destarte, medidas são imprescindíveis para superar a violência obstétrica no Brasil. Nesse viés, cabe às universidades de medicina investirem na humanização do atendimento ao paciente, evitando a criação de um ambiente hostil na sala de parto. Ademais, o governo, através de veículos midiáticos, deve veicular informações acerca dos direitos das parturientes e estimular para que o não cumprimento da lei seja denunciado. Dessa forma, colabora-se para que mulheres deixem de sofrer como Iracema ao dar à luz.