Materiais:
Enviada em: 08/07/2018

A violência obstétrica é conceituada como agressão, proposital ou não, praticada por profissionais hospitalares contra a gestante, na gravidez, parto ou pós-parto, que fere a autonomia, os direitos sexuais e reprodutivos da mesma. Esse é o tema do projeto 1:4 (uma em quatro) da fotógrafa Carla Raiter, a qual objetivou, por meio dele, incitar a discussão de tal assunto, ao mesmo tempo atual e antigo, que se caracteriza como um tabu na sociedade brasileira.         O referido projeto fotográfico ratifica seu título com dados estatísticos da FMUSP, os quais revelam que uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência obstétrica. Esse dado conjuntamente à ausência de políticas públicas que protejam os direitos e a integridade das gestantes em maternidades, públicas e privadas, demonstram que a sociedade brasileira corrobora ou, no mínimo, ignora o sofrimento humano, físico e psicológico, duramente exposto nas fotos de Carla Raiter. Isso porque, diferentemente do que ocorre com outras formas de violência, essa não impele à discussão de suas causas e meios para combatê-la, de maneira que a impunidade e o não questionamento das decisões médicas, tidas como soberanas, asseguram que mulheres sejam traumatizadas por toda a vida.         Ademais, as fotos do projeto ''1:4'' mostram mulheres violentadas e fragmentos de seus relatos gravados em seus corpos, numa menção às marcas físicas e psicológicas que as agressões obstétricas deixaram. O referido trabalho relata, sobretudo, a desumanização da medicina. Portanto, evidencia-se: o alinhamento de muitos médicos à lucrativa indústria do nascimento, que visa realizar cesáreas para agilizar o trabalho de parto, ainda que desnecessariamente (de acordo com o Ministério da Saúde, tal procedimento supera 90% dos partos em hospitais particulares, não sendo muito discrepante tal dado em hospitais públicos, enquanto o indicado pela OMS é, no máximo, 15%); a invalidação da Lei do Acompanhante perante a palavra soberana do médico; e os absurdos relatos de parturientes tratadas como prisioneiras (impedidas de ter acesso à água ou à comida segundo ordens médicas).            Em síntese, afim de atenuar o problema da violência obstétrica no Brasil, é imperante o projeto de Carla Raiter seja divulgado nas mídias para que os brasileiros tomem conhecimento dos alarmantes relatos, quebrem o tatu acerca de tal tema e discutam-no , para que estejam alertas, passem a exigir a humanização da medicina e o combate à essa forma de de violência. Além disso, é de suma importância que o Estado torne a violência obstétrica crime, com consequências previstas em Lei, e que sejam criadas políticas públicas, por meio de consulta popular, visando legislar sobre práticas obstétricas, e garantir a inviolabilidade dos direitos das mulheres sobre seus corpos.