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Enviada em: 27/07/2018

De acordo com Zygmunt Bauman, o individualismo é uma das intempéries da pós-modernidade, liquefazendo relações. Nesse aspecto, o elo médico-paciente tem se deteriorado, acarretando em muitos casos de violência obstétrica. No Brasil, segundo pesquisa da Época, cerca de 25% das gestantes sofreram alguma violência durante o parto. Além da egolatria do clínico, o machismo, a objetificação humana e a remuneração monetária pelo número de cirurgias, avultam o número de episódios infelizes. Desse modo, infere-se a necessidade de debater a temática.       Mormente, vale ressaltar que a sociedade brasileira foi construída sob moldes patriarcais e machistas, onde a figura da mulher é rotineiramente desumanizada. O machismo, por objetificar o corpo feminino, e a egolatria médica, por pressupor a inquestionabilidade do saber clínico em vitupério das vontades da mãe, precariza o atendimento à mesma, onde o médico infere palavras agressivas e substâncias que a parturiente desconhece, não dando-lhe a chance de manifestar-se sobre o procedimento ou fármaco, como a ocitocina sintética, usada para acelerar o nascimento. Destarte, nota-se que objetificar o corpo humano dá aquiescência de violá-lo e, ao somar isso ao machismo, vemos procedimentos invasivos e desnecessários sendo realizados, como a episiotomia, onde é feito um corte no órgão feminino, levando à complicações no pós-parto.       Outrossim, a sistematização de uma área tão complexa, como a medicina, a tergiversa. Ou seja, a preferência pelo processo rápido em detrimento do natural, a fim de ter uma receita maior, visto que a remuneração se dá de acordo com o número de cirurgias, abre espaço para a violência obstétrica. À vista disso, o número de cesárias no Brasil corresponde a 57% dos partos de acordo com a UNICEF, contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que esse número seja de, no máximo, 15%. Portanto, é indubitável que a estandardização do atendimento médico resulta em episódios perniciosos à saúde materna.       Para Sartre, "A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota". Dessarte, diante da problemática, identifica-se a necessidade de vicissitudes. A encetar, o Ministério da Saúde deve exortar as puérperas a pleitearem seus direitos, informando-as, através de campanhas, sobre os mesmos, e garantir uma formação médica humanizada, a fim de garantir que a voz materna seja ouvida durante o parto e que o número de cesáreas diminua. Não obstante, a mídia pode atuar reiterando sobre as práticas médicas inadequadas, a fim de garantir que o empoderamento dessas mulheres, para que se protejam. Por fim, a sociedade civil deve levantar o debate, com fito de dar apoio às parturientes que já sofreram abuso. Desse modo, o Brasil não será derrotado por essa adversidade.