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Enviada em: 12/08/2018

O ensaio fotográfico "1:4", de Carla Raster, retrata mulheres que sofreram algum tipo de desrespeito durante o parto, desde a privação de comida até práticas médicas que vão contra a vontade da gestante. Esse cenário constitui a chamada violência obstétrica, cujas principais causas estão associadas à materialização do processo de parto e à alienação dos profissionais da área de saúde às medidas tomadas por grandes empresas médicas.        Observa-se que, na sociedade pós-industrial, o processo de parto se tornou um procedimento com finalidade lucrativa. Seguindo o raciocínio do sociólogo contemporâneo Jürgen Habermas de que as relações que visam ao lucro (razão instrumental) têm se expandido para áreas da razão comunicativa, pode-se afirmar que a gestante tem se tornado apenas um meio para se atingir um propósito lucrativo. Inúmeros são os casos de mulheres que passam pela episiotomia, que consiste em um corte na região do períneo, somente para acelerar o parto, mesmo essa cirurgia sendo contra a vontade da paciente. Dessa forma, a materialização do processo de parto corrobora a violência obstétrica, já que o desrespeito às gestantes está ligado a um processo meramente lucrativo.        Ademais, a formação dos profissionais da saúde está ligada às pesquisas financiadas por grandes empresas médicas. Por conta disso, esse trabalhadores perdem o olhar mais crítico a respeito de certas medidas obstétricas, sendo, desse modo, alienados às doutrinas que visam aos fins econômicos que ignoram o bem-estar das mulheres. A manobra de Kristeller, por exemplo, embora seja proibida pelo Ministério da Saúde, é realizada por diversos médicos, dado que, em suas formações, eles são orientados a realizarem tal procedimento a fim de agilizar o parto, desconsiderando os riscos que essa prática pode trazer às pacientes. A educação dos profissionais, portanto, está relacionada à violência obstétrica, uma vez que é responsável pela alienação dos profissionais às visões econômicas.        Assim, torna-se evidente que a parturiente materializada e o profissional alienado contribuem para o problema em questão. Dessa forma, o Estado precisa criar campanhas de conscientização sobre os direitos das gestantes, sendo estas dignas de serem tratadas como pessoas e não como meios lucrativos. Além disso, cabe aos Ministérios da Educação e da Saúde adicionarem à grade universitária aulas que busquem desvincular a obstetrícia a meros pensamentos econômicos. Essas aulas devem recorrer a palestras com pacientes que relatem suas experiências desumanas durante o parto e, também, à conscientização dos perigos que certas medidas podem trazer às gestante. O objetivo dessa ação é redirecionar a formação dos profissionais a um pensamento baseado na comodidade de suas pacientes, tornando o parto um processo no qual a mulher se sinta acolhida e respeitada.