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Enviada em: 18/08/2018

Segundo Michel Odent, renomado obstetra francês, para mudar o mundo é preciso, antes, mudar a forma de nascer. Entretanto, se a humanização do parto é um pré requisito para um mundo melhor, nós temos muito a mudar no cenário obstétrico do Brasil. Conforme dados de uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, uma em quatro parturientes brasileiras sofrem violência na hora do parto. Infelizmente, a violência obstétrica ainda é pouco registrada, considerando que a sua ocorrência é, muitas vezes, naturalizada e sua prática nem sempre é identificada por algumas mulheres. Sendo assim, a violência obstetrícia é um problema de saúde pública que precisa ser debatido.    Na pesquisa "Nascer no Brasil", comandada pela Fio Cruz, 36% das mulheres relataram o uso da manobra de Kristeller, que embora seja utilizada em muitos partos, é um procedimento banido pela OMS. Vale salientar ainda, que estas mulheres não sabiam que a prática é recomendada apenas em casos de risco. Ainda nessa pesquisa, foram exibidos casos de episiotomias e "pontos do marido" não autorizados, uso desnecessário de ocitocina, agressões verbais e negligência médica. Além disso, 81% das entrevistadas afirmaram ter não acompanhante durante o período de hospitalização, muitas delas ao menos sabiam que esse é um direito garantido pela lei federal 11.108/2005.    Já em relatos do documentário "Violência obstétrica: a voz das brasileiras" algumas participantes compararam seus partos a um estupro. Outras, submetidas a cesáreas que não eram necessárias e nem autorizadas afirmaram ser máquinas da "indústria do nascimento". Sobre essa questão, mais uma vez o Brasil se desencontra com as recomendações da OMS. Segundo a organização, a taxa ideal está entre 15 e 30%. Porém, a realidade brasileira aponta que 55,6% dos partos são realizados com essa prática. O percentual é ainda mais alto na medicina privada, na qual 85,5% dos partos são feitos a partir de cesariana, de acordo com dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar.    E para que esta violência seja combatida, todos os setores da sociedade devem estar engajados. A priori, é necessário que a lei 11.108 e os direitos da gestante sejam apresentados à estudantes de ensino médio e superior. Estes também precisam ser apresentados e reforçados em cartilhas pré natal, em comerciais de rádio e TV e em todo tipo de mídia. Ademais, é imprescindível a atuação do Ministério da Saúde e dos Conselhos Regionais de medicina e enfermagem, com jornadas de conscientização, palestras e exibição de documentários sobre o tema, primeiramente aos profissionais. Também é necessário o incentivo ao Plano de Parto - documento informal, onde a gestante relaciona tudo o que desejaria ou não no momento do parto - que é garantido pela legislação brasileira. Assim, iniciaremos a real humanização do parto. Já que todos nós, sem exceção, somos produtos dele.