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Enviada em: 27/08/2018

Michel Odent, médico francês e defensor do parto normal, foi categórico ao dizer: “Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer”. De fato, o nascimento por meio da violência obstétrica tem gerado cada vez mais implicações na saúde física e psicológica da mãe e do bebê, refletindo em suas relações familiares futuras. Desse modo, é válido buscar medidas que extinguam esse tipo de violência no país, a partir de condutas humanizadas, centradas na liberdade de escolha de cada parturiente.          Em primeira análise, vê-se o sofrimento das mulheres ao darem à luz como uma teoria perpetuada pela história. Firmada no antigo testamento, a passagem bíblica de Gênesis revelava que as dores do parto são consequências do pecado original. Desde então, o parto doloroso foi aceito como normal pela sociedade ao longo do tempo. Hodiernamente, muitos direitos são desrespeitados, gerando grande descontentamento familiar, o qual pode implicar em outros problemas de saúde, como a depressão pós parto. Diante disso, a Rede Cegonha do Ministério da Saúde tem lutado para a implementação de uma rede de cuidados, assegurando às mulheres os direitos à voz e à atenção humanizada na gravidez.                Entretanto, não é isso que ocorre nos centros obstétricos do Brasil. De acordo com uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres foram desrespeitadas na gestação ou no parto. Esse tipo de prática já é tido como crime em países como a Argentina e Venezuela. Com efeito, percebe-se a urgência de maior discussão, engajamento social e político nos hospitais e clínicas brasileiras, a partir da valorização do ser humano em detrimento de valores econômicos, os quais predominam na medicina atual. Exemplos disso são a realização de cirurgias cesarianas sem necessidade e procedimentos como a episiotomia indiscriminada, que vão de encontro aos preceitos éticos profissionais.          Diante do exposto, a sociedade primeiramente deve quebrar o paradigma de que o parto deve ser algo sofrido assim como em toda a história. Destarte, cabe ao Ministério da Saúde distribuir cartilhas conscientizadoras e implantar o parto humanizado em todos os hospitais brasileiros, com o auxílio dos programas já desenvolvidos pela Rede Cegonha, a fim de promover um atendimento de excelência à gestante. É pertinente também a inclusão de disciplina que verse sobre o parto humanizado, pelas Universidades do país com graduação na área da saúde e que formarão profissionais para a assistência obstétrica, com o intuito de qualificá-los nesse âmbito. Aliando todos esses fatores, poder-se-á o Brasil se ver livre da violência obstétrica, a qual aflige grande parte do sonho da maternidade das mulheres brasileiras.