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Enviada em: 19/10/2018

John Stuart, filósofo britânico, acreditava que, sobre o seu corpo e mente, o ser humano é soberano. Contudo, dados do Ministério da Saúde comprovam que pelo menos 62% das gestantes brasileiras sofreram algum tipo de agressão durante o trabalho de parto. Nesse sentido, a naturalização da violência obstétrica no país, em conjunto com a falta de ações governamentais eficazes, cria um cenário que põe em cheque a integridade humana da mulher e a soberania dela sobre seu corpo.               O parto é considerado uma fase sagrada para várias culturas, que o associa como o "início de um novo ciclo". Dada tamanha relevância, o filósofo Sócrates, ao se inspirar no trabalho de sua mãe, uma parteira, criou a filosofia maiêutica que, em grego, significa "parto das ideias". Talvez, hoje, ele se espantasse com o tratamento desumanizado para com as gestantes no Brasil, muitas vezes hostilizadas pela equipe médica. As violências são inúmeras, e vão desde o abuso físico (como exames invasivos) até a discriminação, expressa pela impaciência e humilhação. Para ilustrar esse fato, é fundamental lembrar o caso da paciente Joyce Guerra, grávida cega que teve uma cesária sem anestesia, mesmo relatando sobre a dor aos profissionais.              Dessa maneira, as dores no parto nem sempre são causadas apenas pelo nascimento do bebê e, em alguns casos, acarretam em consequências que serão sentidas a vida toda pela mulher. Em primeiro lugar, muitas passam a rejeitar o próprio corpo em virtude de cicatrizes e má lembranças deixados pelo momento, o que as leva a um quadro de ansiedade e insegurança para retomar a vida sexual. Por isso, em um cenário marcado pela passividade, é necessário que o indivíduo se posicione frente à ética nacional, de forma a honrar seus direitos e valores humanos e, assim, evitar o pior para as gestantes.        Urge, portanto, a necessidade de políticas que visem coiber essa violência e que garantam institucionalmente o bem-estar feminino. Para tanto, cabe ao Ministério da Saúde, em apoio às universidades e profissionais especializados em partos humanizados, por meio de palestras e intervenções acadêmicas com estudantes de medicina e de enfermagem, expor a seriedade do cuidado médico durante esse processo delicado, a fim de formar profissionais mais capacitados e humanizados. Ademais, é fundamental que os hospitais de saúde tenham assistentes sociais para acompanhar o nascimento, com o objetivo de garantir o direito da mulher antes, durate e após o parto e, assim, exigir que os profissionais envolvidos no processo respeitem os direitos assegurados à gestante. Só assim, a autonomia plena do seu próprio corpo pelo homem, outrora exposta por Stuart, poderá ser contemplada.