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Enviada em: 21/05/2019

Fordismo Neonatal    Sobre a perspectiva de John Stuart Mill, o homem deve ser soberano sobre seu corpo e mente. No entanto, o cenário do setor obstetrício no Brasil diverge do preceito indicado pelo pensador, uma vez que a recorrência de violações dos direitos de mulheres grávidas é uma realidade no país. Portanto, é necessário analisar a responsabilidade do governo e da conjuntura médica nacional, que corroboram a perpetuação da violência obstetrícia no Brasil.     Em primeiro plano, cabe destacar a precariedade do sistema público de saúde em zonas periféricas como principal viabilizador da agressão física e psicológica contra mulheres em trabalho de parto. De maneira análoga ao romance "Becos da memória", de Conceição Evaristo, evidencia-se a limitação do acesso a hospitais nas "senzalas-favelas", o que ocasiona a realização de procedimentos obstétricos por indivíduos não capacitados, de forma a proporcionar práticas violentas durante o processo. Depreende-se, portanto, o descaso do poder público para com as comunidades ao negligenciar o acesso a sistema neonatais de qualidade, descartando as necessidades de grávidas que moram em zonas de difícil alcance.           Ademais, soma-se a tais dificuldades a insensibilidade de parte dos profissionais da área médica em relação às gestantes. Assim como no modelo de produção fordista no século XX, o momento do parto é visto como etapa única do processo, de modo a desconsiderar o valor do bem-estar nos períodos que sucedem e antecedem a maternidade. Infere-se, por conseguinte, a desumanização de vítimas de violência médica por conta da falta de inteligência emocional por parte dos especialistas obstétricos.   Posto a problemática exposta, são necessárias medidas que visam atenuar tal cenário. Em vista disso, é indispensável a atuação público-privada de redes hospitalares filantrópicas juntamente ao SUS para a estruturação de hospitais específicos para maternidade em locais pouco acessíveis para mitigar as limitações desses ambientes. Além disso, deve-se incluir na grade de ensino médico superior disciplinas comuns que estimulam o contato com o paciente, a fim de construir empatia e responsabilidade, de maneira a diminuir os maus tratos e a indiferença durante a gestação e afins. Diante dessas providências, o Brasil poderá caminhar esteira de produção afora.