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Enviada em: 13/04/2018

'O que os olhos não veem, o coração sente'       No livro “Vidas Secas”, do modernista Graciliano Ramos, é retratada a realidade das famílias nordestinas castigadas pela seca, todo ano, no sertão. Na ficção, tal dilema perpassa somente no Nordeste; na realidade, ele tem se alastrado por grande parte do país e penitenciado inúmeras famílias a sofrimento, inclusive nas grandes capitais. Enquanto a crise hídrica ocorria somente no interior do Brasil era indiferente... chegou nos grandes centros urbanos, começou a preocupar. De fato, a mazela já existia – só taparam-se os olhos para ela.        Esse tampão foi fundamentado em um caráter econômico. Desde o período colonial, o Brasil é conhecido por ser um dos maiores produtores de gêneros agropecuários do mundo – título que não deve ser comemorado pela óptica ambiental. Isso porque, de acordo com a FAO, é na agricultura que se utiliza 70% de toda a água consumida no país anualmente e desse percentual, 50% é desperdiçado na irrigação – a exemplo do que ocorre no Nordeste. Esta, por ser uma das regiões que mais produz bens agrícolas, é vitimada não só pela escassez pluvial, como também pelo consumo exacerbado de água ; ou seja, é sacrificada para alimentar o país e o mundo. Ora, muitos se vendaram para não ver o mal, em virtude de se beneficiarem dele.         Nessa perspectiva, houve uma indiferença quanto ao uso consciente da água por outras regiões do país. Há uma década, a fartura englobou os sudestinos e os deixou céticos de que viveriam a realidade nordestina algum dia. Deixou. Hoje com a crise em casa, São Paulo e outros estados reduziram o consumo de água em 10%, consoante o jornal Estadão, e remediam o que tinha solução; visto que o desperdício foi responsável por fomentar a crise. Por conseguinte, é necessário que os estados brasileiros, a fim de evitar que a situação paulista se repita em suas localidades, controle o consumo “per capito” de água em cada residência brasileira.         Para combater a problemática da água no solo brasileiro deve haver também a contribuição da Agência Nacional de Água e do empresariado. Este deve aplicar sistemas de irrigação econômicos, mediante mangueiras que atinjam diretamente a raiz da planta, com o intuito de aperfeiçoar o cultivo e evitar o máximo desperdício do fluido. Por sua vez, aquela se faz responsável por informar a sociedade sobre a possibilidade de um futuro próximo sem água, por meio de canais televisivos com o objetivo de impactar as pessoas e induzi-las a pensar em prol do coletivo. Dessa forma, homem conviveria em harmonia com o meio ambiente, “Vidas Secas” não seria mais um reflexo da realidade e o Brasil não teria uma venda o cegando.