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Enviada em: 04/08/2018

"Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo não veem." O excerto da obra modernista "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago, crítica, através das metáforas, a alienação de uma sociedade que, paulatinamente, torna-se invisual. Fora do universo literário, tal obra atemporal não foge da cegueira contemporânea, na qual o tecido social brasileiro não enxerga alternativas para combater os maus tratos aos animais. Nessa ótica, devem ser analisadas as principais causas dessa problemática.     A princípio, vale ressaltar a negligência governamental é uma das principais causadoras do impasse. Destarte, o iluminista Rosseau no contexto da Revolução Francesa afirma o papel do Estado em garantir igualdade jurídica para todos. Contudo, a prática deturpa a teoria, embora a preservação aos animais seja garantida pela Constituição, tal garantia é negada, uma vez que eles são submetidos as agressões, à falta de alimentação, à precariedade de higienização e torturas pelos seus donos, por muitas vezes, devido à falta de policiamento legislativo para punir os agressores. Dessa forma, é inadmissível que o abandono do governo em relação às demandas sociais verificado no século XVIII ainda persistam nos dias atuais.     Não obstante, a herança histórico-cultural potencializa atos inconstitucionais. Isso decore pelo uso dos "pets", principalmente de cachorros, durante a 2° Guerra Mundial, por serem considerados seres inferiores, eram utilizados para acionarem as bombas e morrerem nas batalhas. Analogamente a isso, a sociedade, então, tem a tendência de incorporar as estruturas sociais que são impostas à sua realidade, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bourdieu, naturalizou e reproduziu o pensamento da falta de alternativas para combater os maus tratos aos animais como algo cotidiano passível de soluções. Todavia, tudo o que é socialmente construído pode ser naturalmente combatido.    Violência aos animais, portanto, representa um antagonismo a ser solucionado. Para tanto, cabe o IBAMA e a Constituição Federal criar um projeto na esfera social que se chamará: "Preservação aos seres vivos". Nele, os veterinários e os biólogos irão nos bairros municipais de cada cidade para visitar as famílias e criadoiros que tenham animais, uma vez por mês, com o intuito de avaliarem o local, e se eles estão recebendo o suporte básico necessário para viverem no ambiente em que se encontram, e punindo os donos com multa, perda da guarda ou até mesmo a prisão caso descumpram a legislação, a fim de reverter esse cenário caótico e darem um lar seguro aos animais. Dessa maneira, o meio social possa enxergar novamente a importância de  combater a brutalidade contra os seres vivos indefesos.