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Enviada em: 06/10/2017

O filme francês "Intocáveis", baseado em fatos reais, recentemente emocionou o mundo a história de um tetraplégico e seu "cuidador". Posto que verossímil, os desafios enfrentados pela maioria dos deficientes físicos no Brasil, raramente milionários como o protagonista, estão distantes dos apresentados no filme: menos no âmbito da crise existencial e mais no da acessibilidade e da inclusão social. Gerada por preconceito da sociedade e descaso estatal, essa questão é uma problemática a ser superada pela nação brasileira em prol da equidade do exercício da cidadania.       Mormente, é lamentável a influência da discriminação velada na vida do deficiente físico no Brasil. Ao longo da História, a visão sobre o deficiente - seja ele visual, auditivo ou propriamente físico - sofreu alterações: se outrora, da Esparta da Grécia Antiga à Alemanha Nazista, era visto como alguém inválido a ser descartado, exterminado, na hodiernidade, é muitas vezes entendido como alguém incapaz, ineficiente. Dessarte, ao ser tachado veladamente - sob um discurso politicamente correto,  e desinformado - de incapaz, desde o ambiente familiar, estabelece-se um estigma de "coitadismo", muitas vezes internalizado pelo indivíduo, que acarreta diversos entraves no convívio social.       Por outro lado, o poder público peca em garantir acessibilidade e dignidade a essa parcela da sociedade. Em primeiro lugar, ele não oferece acessibilidade satisfatoriamente no ambiente urbano, o que os afetam diretamente ao restringir sua mobilidade. Ademais, "acessibilidade" deve ir muito além de reserva de vagas de estacionamentos e presença de rampas em calçadas: o Estado brasileiro deveria promover, uma adequada inclusão do deficiente físico no ambiente escolar, especialmente nas escolas públicas - tendo em vista a desigualdade social perene à sociedade -, garantindo uma estrutura física e profissional que atenda às suas necessidades. Isso se faz necessário pois, ainda que sejam estabelecidas cotas no mercado de trabalho, segundo o Datafolha, dos doze milhões de deficientes físicos no Brasil, apenas 350 mil estão empregados, e apenas 800 mil concluíram o ensino médio.      Urge, pois, a necessidade da aplicação prática dos direitos garantidos pelo Estatuto do Deficiente. Para isso, o Ministério da Educação deve promover cursos de capacitação a todas as escolas, com treinamento psicológico aos professores e demais profissionais, para lidar com o deficiente físico de maneira digna, de forma a não excluí-lo do processo educacional básico, além de promover campanhas de conscientização sobre preconceito acerca desse tema em rede nacional. Outrossim, o Ministério das Cidades deve estabelecer, de imediato, metas a serem cumpridas pelas prefeituras acerca de melhorias na infraestrutura das vias e de locais de convívio social em prol da acessibilidade, com constante fiscalização do Ministério Público.