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Enviada em: 18/04/2018

A República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento a dignidade humana. Nesse contexto, é paradoxal que o Estado permita a persistência histórica de um padrão educacional incapaz de estimular o debate e a interpretação literária necessários para a erradicação do analfabetismo funcional no Brasil, essencial para a consolidação do ideal republicano.        Em primeiro plano, é pertinente elencar que uma das principais causas da insipiência literária por parte dos brasileiros é o baixo incentivo a leitura e ao debate no ambiente escolar. Nesse contexto, o sociólogo Émile Durkheim afirma que a escola, por falta de incentivo, acaba exercendo um papel restrito aos conteúdos arcaicos, de modo a dispensar a responsabilidade social de transmitir uma educação crítica e voltada para a cidadania. Isso se mostra evidente na linguagem erudita presente nas obras literárias cuja leitura é solicitada aos alunos, que as desprezam devido à incapacidade destes em interpretar o que está sendo discutido na obra em questão. Percebe-se, pois, que a escola persiste como ferramenta distanciadora entre o estudante e o hábito da leitura a partir do momento que não busca meios de unir o contexto acadêmico à realidade cotidiana, tal como Durkheim evidenciou.        Paralelo a isso, nota-se que os efeitos da situação supracitada resultam na formação de indivíduos com oratória empobrecida e insuficientemente capazes de exercer a cidadania em seu país. O filósofo Platão, através da Alegoria da Caverna, metaforiza a incapacidade de expandir os limites do pensamento, o que torna o indivíduo prisioneiro da opinião alheia. Nesse cenário, torna-se possível a ascensão de figuras públicas deploráveis principalmente no âmbito político, no qual o cidadão analfabeto funcional será facilmente manipulável já que não apresenta condições de ler e compreender perfeitamente algumas ideologias.          Impende, pois, que o Ministério da Educação, com parte dos subsídios dos governos municipais e estaduais, promova o incentivo ao debate em sala e à interpretação de textos atrativos para os estudantes de todos os âmbitos educacionais –regular, supletivo e EJA –. Isso seria possível por meio da adequação dos textos literários de modo a contextualizá-los e, portanto, aproximá-los da realidade temporal e social dos estudantes, em prol de despertar o interesse destes para o desenvolvimento acadêmico, fator essencial para a alfabetização e para a plena compreensão de textos e situações cotidianas.