Materiais:
Enviada em: 20/10/2017

Desde 1891, com a primeira constituição republicana, o país vive a expectativa de uma democracia preconizadora do bem-estar da coletividade. Contudo, o atual crescimento do analfabetismo funcional vai de encontro a esse anseio, uma vez que restringe e desqualifica a vida de muitos brasileiros. Nesse contexto, urge o combate a essa realidade, o qual deve confrontar o mau uso dos recursos públicos e a influência da pobreza.    Decerto, o conturbado histórico de crescimento das cidades corrobora o problema. Em consonância, na obra “A Urbanização Brasileira”, o geógrafo Milton Santos referencia que essa expansão ocorreu, primordialmente, sob interesses corporativistas devoradores do patrimônio coletivo. Sendo assim, muitas escolas deixaram de receber recursos importantes para o desenvolvimento de uma alfabetização plena e funcional. Nesse viés, cabe apontar que o baixo incentivo à capacitação dos professores, a falta de estrutura adequada e a alta evasão escolar são reflexos, diretos ou indiretos, dessa conjuntura de negligência.     Ademais, um outro agravante é o estado de carência de grande parte da população. De fato, parafraseando o historiador Darcy Ribeiro, pesa sobre o povo brasileiro a naturalização histórica da penúria e da escassez. Logo, muitos, na busca pela sobrevivência, abandonam ou se dedicam pouco aos estudos. Efetivamente, essa realidade é ratificada pelas estatísticas: nas regiões Norte e Nordeste, onde a escassez se faz flagrante, quase 30% da população, segundo o IBGE, não consegue compreender completamente o que lê.     Fica clara, portanto, a necessidade de enfrentar essa situação. Por isso, o MEC deve priorizar o revigoramento das escolas, por meio de uma maior disponibilização de verbas, programas pedagógicos e treinamentos que promovam o desenvolvimento funcional do ambiente escolar e a valorização do pensamento crítico. Concomitantemente, a sociedade organizada precisa mitigar influência da pobreza, mediante a cobrança e a fiscalização de ações governamentais que viabilizem a ampliação dos programas sociais, como o Bolsa Escola, e a universalização da cidadania. O exercício do voto consciente, as manifestações públicas e o acompanhamento dos projetos de lei são formas democráticas de ajudar nesse sentido.