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Enviada em: 24/10/2017

No início do século XX, a prática do voto de cabresto era comum no Brasil: situação em que os eleitores, muitos deles analfabetos funcionais, vendiam seus votos e apenas os assinavam sem compreender o que escreviam. Nesse contexto, hoje, observa-se no país a predominância dessa problemática entre a população, visto que os indivíduos, embora saibam ler e escrever, não são proficientes devido à falta de colaboração da sociedade e da escola nessa questão.    A princípio, é indubitável que o surgimento da escrita foi preponderante para o pleno desenvolvimento e organização do indivíduo. No entanto, saber executá-la não é o suficiente para afirmar que uma pessoa alcançou o que o filósofo iluminista Immanuel Kant titulou de maioridade intelectual; sendo assim capaz de compreender e elaborar textos e opiniões próprias. Desse modo, o quadro de analfabetismo funcional se estabelece com a permanência da menoridade nos indivíduos que, por não possuírem incentivo à prática da leitura e interpretação, - sobretudo no Brasil, onde o hábito de ler é ínfimo - acabam tendo a sua compreensão textual comprometida.     Além disso, é válido ressaltar, também, como o sistema educacional do país tem contribuído com essa situação, haja vista a falta de um ensino crítico e que estimule a prática interpretativa entre os estudantes. O primeiro instituto de pesquisa do mundo, por exemplo, criado por Platão, caracterizou-se pela influência à execução de debates e exposição de opiniões, o que resultava na formação de estudantes com alto nível crítico e intelectual. Entretanto, no Brasil, evidencia-se a presença de um ensino sem o mesmo ideal, como pode ser comprovado pelo Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf), ao demonstrar que 40% dos alunos que chegam ao ensino superior não conseguem interpretar textos.   Nessa perspectiva, para que o analfabetismo funcional diminua no país, mostra-se, portanto, necessária uma ação conjunta entre Estado e escola. Para tanto, cabe ao Ministério da Educação (MEC), por meio dos recursos destinados a esse setor, a criação de um curso gratuito de compreensão dos mais variados gêneros textuais, o qual seria ministrado nas escolas públicas pelos professores da Língua Portuguesa e ofertado aos alunos do ensino fundamental e médio, visando diminuir a incidência dessa problemática no ensino superior. Ademais, é imprescindível que as instituições de ensino criem o projeto “Leitura na Escola”, em que, mensalmente, seria proposta aos alunos a leitura de um livro em conjunto, cujos capítulos seriam debatidos em sala de aula; aos alunos, seria dada a tarefa de escolha e condução do livro. Afinal, à guisa do educador Paulo Freire, o ensino não é a simples transmissão de conhecimento, mas a construção dele.