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Enviada em: 27/09/2019

No livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol, há um momento no qual vários animais estão disputando uma “corrida”. Alice, ao ver um cenário confuso em que alguns andam em círculo enquanto outros saltam, pergunta ao gato quem venceu a disputa. Este responde que todos ganharam, visto que cada um fez o seu melhor em seu próprio ritmo. Tal filosofia de respeito às idiossincrasias se apresenta, no entanto, distante da realidade das crianças com distúrbio de aprendizagem no Brasil, haja vista que essas encontram dificuldades para se inserir na escola. Assim, faz-se necessária a análise tanto das raízes do problema quanto dos obstáculos enfrentados por esses infantes.   Em um primeiro momento, vale mencionar as origens socioeconômicas dessa problemática. Segundo Marx, a sociedade capitalista é inteiramente estruturada em torno da produção. Como consequência, todas as estruturas sociais, dentre as quais se inclui a escola, trabalham para a formação do que o filósofo Byung-Chul Han chama de “sujeito do desempenho”, caracterizado pela elevada produtividade e adaptação ao sistema. Desse modo, aqueles que apresentam dificuldades em seguir essa cadência industrial, como as crianças com distúrbio de aprendizagem, enfrentam dificuldades não só na escola, mas na sociedade com um todo.   Ademais, é importante destacar os obstáculos apresentados a essas crianças no ambiente escolar. Conforme Leandro Karnal, o modelo educacional praticado hoje foi herdado da Alemanha bélica e fabril do século XIX. Sob esse viés, as escolas, em sua maioria, são totalmente padronizadas, não havendo distinções de provas e abordagens entre alunos com ou sem transtorno de aprendizagem. Por conseguinte, o processo de ensino é prejudicado, gerando um cenário no qual menos de 30% dos egressos do ensino médio sabem adequadamente português e matemática, consoante dados da Universidade Estadual de Campinas.   Portanto, devem-se tomar medidas que melhorem essa conjuntura. Urge, então, que o Ministério da Educação (MEC), por meio de verbas governamentais, promova a adaptação do atual modelo educacional àqueles que apresentam distúrbios de aprendizagem. Isso pode ser feito mediante a realização de cursos obrigatórios oferecidos pelo MEC para professores das redes pública e privada de ensino, que orientem esses profissionais acerca do tratamento adequado a essas crianças. Essa ação tem por fim garantir a efetiva inserção desse grupo no ambiente escolar. Assim, o universo de Alice não estará tão distante.