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Enviada em: 14/10/2017

A beleza da complexidade        O ritmo de vida acelerado alcançado na segunda metade do século XX revelou uma quebra no paradigma nas relações interpessoais: a modernidade líquida. Tal conceito foi objeto de estudo do sociólogo Zygmunt Bauman, o qual traduziu com veemência a postura da sociedade contemporânea. Exacerbada pela fábula da globalização, bem como pela tecnologia, os relacionamentos tornam-se cada vez mais superficiais e perdem a beleza da sua complexidade.          Em princípio, a modernidade líquida tem como um dos seus pilares a globalização, cuja idealiação é a dita aldeia global. Contudo, tal conceito consiste em uma fábula. De acordo com o geógrafo Milton Santos, essa visão de integração é uma farsa, a qual potencializa as diferenças sociais e acirra a diversidade entre as culturas. Exemplo disso foi a polêmica acerca da proibição do uso do véu islâmico em ambientes de trabalho na Europa, pois não se considerou o valor religioso desse símbolo para o povo islâmico. Dessa forma, o verdadeiro significado da globalização estimula a liquidez nas relações humanas.           Outrossim, a tecnologia modificou as relações a partir do século XX. No passado, a maior parte das uniões eram perenes,  mas nem sempre esse atributo era sinônimo de felicidade. Com a revolução sexual, houve transformação nesse comportamento a partir da intensidade dos relacionamentos. Atualmente, há o predomínio da superficialidade, fomentada pela era digital, a qual as redes sociais e namoros virtuais conferem um tom frio, efêmero e programado às relações. Nesse sentido, as chances de magoar-se são ínfimas, o que atrai mais adeptos a esse comportamento raso.             As relações pessoais caracterizam-se, portanto, como superficiais diante da sociedade líquida moderna. Paulatinamente mais carente de ferramentas de aproximação, como a tecnologia e a globalização, o indivíduo se distancia do seu semelhante e dele mesmo. Em uma época em que o amor é um mero objeto e a decepção é uma palavra proibida, o ser humano perde a beleza da sua complexidade. Assim sendo, certamente a lição de Bauman em que a vida é muito maior que a soma de seus momentos será permanente.