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Enviada em: 18/04/2019

“O pior mal é aquele visto como corriqueiro”, afirma Hannah Arendt. O conceito de banalização do mal, corriqueiro, da escritora judia, adequa-se perfeitamente a um dos maiores problemas vivenciados pela sociedade brasileira: a violência entre jovens. Produto de uma vulnerabilidade social gritante e da ausência de medidas efetivas para seu combate, a violência entre jovens assola não somente um segmento, mas aflige o cotidiano de toda uma população, destruindo vidas, num cenário de etérea banalização. Até quando?        É importante salientar, a princípio, que a violência entre menores de idade, de acordo com o Atlas da Violência do IPEA, tem alcançado um patamar perturbador, aumentando seis vezes em um período de doze anos, desde 2006. Tais números confirmam, desta forma, o problema do crescente índice de infrações cometidas por jovens de 12 a 19 anos, notadamente negros e moradores de áreas periféricas, cuja desigualdade e vulnerabilidade social predominam. Essa parcela vê no crime uma saída, a única palatável à ascensão social, num ambiente em que oportunidades e direitos inexistem. Ou, conforme Gilberto Dimenstein, estão apenas no papel.        Por outro lado, a discussão atual recai sobre medidas inócuas, como a redução de maioridade penal, a flexibilização do armamento da população, ações totalmente contraproducentes. Ademais, boa parte dos jovens detratores um dia sofreu algum tipo de violência, está envolvido em redes criminosas e/ou saiu de casas de detenção que não ressocializam. Assim, parte da culpa é de um Estado omisso, que não foca no cerne da questão, não investe em educação, trabalho e renda, problemas básicos, a exemplo dos países nórdicos, Finlândia, Suécia e Noruega, que viram seus índices de violência caírem a praticamente zero com investimento ostensivo em tais áreas. É na concessão de direitos básicos que viabiliza-se a construção de um indivíduo e sociedade melhores.        É necessário, portanto, partir da premissa que a ampliação de programas de acesso a emprego e empreendedorismo, nos moldes do “Jovem Aprendiz”, pelas Secretarias de Trabalho e entidades como Sebrae, contribua para que haja oportunidade de inserção desses jovens no mercado de trabalho, retirando-os da ociosidade, vulnerabilidade, estimulando-os à mudança de vida. Bem como, instituir grupos de diagnóstico, implementação e avaliação de ações de educação, cultura, esporte e inclusão, pelas prefeituras, que dialoguem com a realidade e visem retirar jovens do contexto de marginalização a partir da concessão de direitos, de futuro e de cidadania. Fatores banalizados quanto a própria violência. Infelizmente.