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Enviada em: 27/10/2017

Mais uma manhã ensolarada em Salvador anunciava a vida libertina de Pedro Bala e os demais meninos órfãos de “Capitães da Areia”. Excluídos e marginalizados, pouco lhes restavam além de um tênue fio de dignidade, assim, cometiam pequenos delitos para sobreviver à situação de exclusão. Jorge Amado, quando concebeu o enredo dessa obra, desejava abraçar a causa dos menos favorecidos e conscientizar a sociedade sobre as mazelas frutos da exclusão. Acresce-se a isso a grande atualidade de sua ficção visto que, no Brasil hordiendo, cresce a preocupação relativa à criminalidade à proporção que também se disseminam os casos de delitos cometidos por menores.     A justificativa mais recorrente para esse envolvimento, é a situação de miserabilidade que impulsiona os adolescentes a procurarem alguma forma de conseguir renda. Diante disso, ocorre a evasão escolar e, como o mercado formal não consegue absorver a grande quantidade de pessoas a procura de um ofício, a ilegalidade torna-se o caminho mais rápido para equacionar a situação de pobreza. Ademais, verifica-se que o Estado, juntamente com a sociedade, coaduna com a situação de pobreza, visto que o primeiro não consegue suprir as demandas necessárias para fornecer uma vida digna a todas as famílias pobres; quanto ao segundo, o preconceito relativo à pobreza delimita o acesso dos jovens mais pobres ao mercado de trabalho.     Verifica-se, portanto, que o índice de atos ilícitos praticados por jovens tem aumentado, isso porque o Estatuto da Criança e do Adolescente deixa claro que menores de 18 sofrerão medidas socioeducativas, relativamente muito mais brandas do que a justiça impugna a maiores de idade. Diante disso, essas crianças abandonam os estudos e cedo negligenciam a possibilidade de conseguir um bom trabalho associado a uma formação adequada, perpetuando o fomento dos altos índices de violência que vem acometendo o país.     Diante do exposto, é imprescindível a mudança desse cenário nada promissor. O Estado, por meio do Ministério do Planejamento, deve orçar um valor significativo para gerir melhor a situação da verba destinada à área da educação. A partir disso, a escola terá a grande responsabilidade de criar projetos envolvendo a família e a comunidade em geral por meio de palestras e reuniões com o intuito de difundir a ideia de que apenas a educação é capaz de operar uma mudança da perspectiva de vida, obliterando a crença de que o tráfico é um caminho viável. Além disso, a família deve assumir um papel importante. A ela cabe a orientação através de um franco diálogo com seus filhos no sentido de orientar para a constituição de um caráter honesto e digno. A partir dessas medidas, espera-se que os capitães da areia que povoam a literatura sejam apenas parte de uma ficção regionalista da década de 1930.