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Enviada em: 01/09/2018

“E se somos Severinos iguais em tudo na vida, morreremos de morte igual, mesma morte Severina: que é a morte de que se morre de velhice antes dos trinta”. Essas são palavras de João Cabral de Melo Neto, que discorre em sua obra “Morte e Vida Severina” acerca das mazelas responsáveis pelo alto índice de letalidade precoce. Nesse viés, apesar de ter sido produzida no século XX, o cenário retratado dialoga com o atual contexto brasileiro, visto que, hodiernamente, a taxa de mortalidade infantil é crescente, preocupante e associada a fatores como a pobreza e a escassa prevenção.       Em primeiro lugar, convém ressaltar que, dados do Ministério da Saúde (MS) mostram que o número de mortes infantis no ano de 2016 apresentou um aumento após 26 anos de redução. Nessa vertente, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, a queda da mortalidade entre os infantes está associada à melhoria nas condições de vida da população. Contudo, ao se observar a atual conjuntura nacional, verifica-se que, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mais de 50 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza no país. Sendo assim, a falta de acesso a recursos de alimentação, higiene e saúde corrobora essa realidade e justifica o pensamento do autor supracitado, de que a morte Severina ataca em qualquer idade.       Em segunda instância, se por um lado o difícil acesso a recursos colabora para a elevada taxa de mortes infantis, por outro, o reduzido número de crianças vacinadas contribui para o aparecimento de doenças nesse meio. Nesse âmbito, de maneira semelhante ao quadro vivenciado em 1904, ano da ocorrência da Revolta da Vacina em virtude do desconhecimento do recurso, a sociedade atual também sofre com a falta de informações a esse respeito, o que gera uma menor adesão à prática de vacinação. Dessa forma, a queda do índice de profilaxia infantil ocasiona uma maior ocorrência de patologias, responsáveis por 60% das mortes de infantes, segundo o MS.       Urge, portanto, a adoção de medidas que solucionem esse impasse. Logo, cabe ao Governo garantir a alimentação, o saneamento básico e o acesso à saúde em todo o país, por meio da destinação de maiores verbas a esse fim, com o fito de promover a melhoria nas condições de vida nacional. Outrossim, convém que a mídia crie campanhas que visem a conscientização popular acerca do funcionamento das vacinas e divulgue os meios, como telefones e sites, pelos quais os cidadãos podem contatar profissionais em casos de dúvidas, de modo a aumentar a adesão popular às práticas de imunização. Quem sabe, assim, a realidade Severina que ameaça a infância no país, fique restrita à obra Modernista.