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Enviada em: 09/08/2018

Na obra literária Vidas Secas, Graciliano Ramos expõe a pobreza em sua máxima amplitude, com consequências como problemas de saúde e a neutralidade do restante da população ao caos humano. Entretanto, apesar de ser fictícia, infelizmente, retrata de forma fiel e atemporal o dia a dia de milhares de brasileiros. Dessa forma, tal realidade reverbera no número de casos de mortalidade infantil, que cresce em virtude da ineficácia do Governo e da crescente concentração de renda.        Em uma primeira abordagem, é fundamental destacar o pensamento de Aristóteles, que afirma que a política é para o bem do corpo social e deve ser composta por cidadãos que visem o bem comum. Contudo, esse pensamento se revela uma utopia no cenário brasileiro, visto que o exercício coletivo não vem sendo realizado nos meios públicos, com frequentes casos de corrupção que deslegitimam o poder. Além disso, a má gestão do Ministério da Saúde é maximizada em períodos de instabilidade política e crise econômica, pois além do desvio de verbas, diminui-se os investimentos em políticas de prevenção de saúde, fundamentais para a diminuição da mortalidade infantil, como o pré-natal, campanhas de vacinação e conscientização através das mídias, necessitando, portanto, de mudanças drásticas na forma como a saúde é conduzida no Brasil.      Outrossim, a reflexão do sociólogo Caio Prado Júnior se faz necessária, haja vista que para ele a desigualdade social é a maior marca de contradição do território brasileiro. Com efeito, pobreza implica falta de acesso a condições de moradia adequada, a fim de que se tenha segurança e saneamento básico que propiciem uma gestação e infância adequadas ao bebê e a família. Ademais, a concentração de renda expõe de forma mais ampla o individualismo do século XXI, proposta na forma de liquidez por Zygmunt Bauman, em que o próximo não é enxergado como um ser humano de valor, principalmente em condições financeiras desfavoráveis. Logo, o cumprimento da Constituição Cidadã no que tange os direitos sociais não é efetivado, expondo chagas na pátria que promete Ordem e Progresso.      Destarte, o Ministério da Saúde deve, de forma inexorável, concentrar esforços em políticas de prevenção, que a longo prazo diminuam os gastos do setor público, afinal, antecipar-se às enfermidades geram menos custo que medicamentos. Para isso, deve promover, em parceria com as prefeituras, o acompanhamento efetivo desde a gestação aos primeiros anos de vida, por meio do auxílio dos diversos profissionais da saúde, além da vacinação completa, com o auxílio das mídias digitais para conscientização social. Assim, poder-se-á mudar a realidade nacional e fazer com que a obra Vidas Secas seja apenas histórica.