Materiais:
Enviada em: 20/08/2018

Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. Hodiernamente, esse mito assemelha-se à luta cotidiana dos órgãos de saúde brasileiros, que buscam ultrapassar as barreiras para diminuir a alta taxa de mortalidade infantil. Nesse contexto, não há dúvidas de que a promoção de qualidade de vida adequada para minimizar o número de recém-nascidos mortos é um desafio no Brasil que ocorre, infelizmente, devido não só à negligência governamental, mas também à postura indolente da sociedade. Em princípio, a Constituição Cidadã de 1988 garante saúde de qualidade como direito de todos e dever do Estado, sendo o compromisso deste prover o acesso igualitário e universal às ações e serviços para sua formação e proteção, todavia, o Poder Executivo não efetiva esse direito. Consoante Aristóteles no livro "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo verifica-se que esse conceito encontra-se deturpado no Brasil à medida que a ausência ou deficiência no saneamento básico- os sistemas precários de esgoto resultam em água estagnada, a condição perfeita para a proliferação do mosquito transmissor do Zica Vírus e da Microcefalia- como resultado, o país apresentou alta na taxa de mortalidade infantil que mostrava-se em declínio desde a década de 1990, segundo o IBGE (Instituto brasileiro de Geografia e Estatística), fazendo os direitos permanecerem no papel.  A posteriori, o conceito de Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman, explica a queda das atitudes éticas pela fluidez dos valores, a fim de atender aos interesses pessoais, aumentando o individualismo. Desse modo, o sujeito, ao estar imerso nesse panorama líquido, acaba por recusar a profilaxia em crianças permitindo que doenças como o Zica Vírus, figurem em território nacional, cujas causas podem ser explicitadas pelas imprecisões das informações oferecidas à comunidade acerca da relevância dos processos de vacinação. Apesar de triste, esse quadro não é novidade no Brasil e relembra a Revolta da Vacina no início do século XX, quando por falta de informação e campanha adequada a população periférica do Rio de Janeiro se recusou a tomar vacina contra varíola. Em vista disso, os desafios para pulverizar a mortalidade infantil estão presentes na estruturação desigual e opressora da coletividade, bem como em seu viés individualista.