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Enviada em: 04/09/2018

A Carta Magna de 1988 – documento de maior soberania no território nacional – declara a saúde como um direito fundamental de todo cidadão. Apesar disso, observa-se que diversos indivíduos não usufruem, na prática, desse direito constitucional, em razão de a cultura da automedicação estar intrínseca à sociedade brasileira. Nesse contexto, a problemática representa um cenário desafiador na atualidade, seja pela insuficiência governamental, seja pela herança histórico-cultural.       Em primeiro plano, Zygmunt Bauman afirma, em sua obra ‘’Modernidade líquida’’, que, na era pós-moderna, algumas instituições configuram-se como ‘’zumbis’’, uma vez que estas perderam suas respectivas funções sociais, todavia, tentam manter seus sistemas a qualquer custo. Sob tal ótica, é válido analisar que o Ministério da Saúde acaba por falhar perante seu papel na sociedade, tendo em vista a escassez de ações destinadas à prevenção do consumo independente de fármacos por parte dos indivíduos e, dessa forma, a negligência estatal colabora com a continuidade de tal fato no território nacional. Consequentemente, a partir disso,denota-se uma maior responsabilidade do Governo em face das políticas destinadas ao combate ao consumo inconsciente de fármacos entre a sociedade civil.       De outra parte, significativo destacar o reflexo histórico no que tange a automedicação entre a população. Isso decorre do período colonial brasileiro, em que os boticários eram os responsáveis pela produção de remédios destinados à sociedade, ao passo que esses indivíduos não dispunham de base científica comprovada para o exercício de tal atividade, baseando-se apenas na transmissão de conhecimentos orais e no misticismo. Por conseguinte, conforme Pierre Bordieu defendeu, na teoria do Habitus, a sociedade tende a incorporar e naturalizar determinadas estruturas sociais, a exemplo da omissão perante a busca por um profissional adequado – como os médicos, e, dessa forma, a banalização da ingestão autônoma de insumos farmacêuticos acabou por enraizar-se no ideário coletivo, o que pode acarretar em graves prejuízos para o organismo, tal como reações alérgicas.              Destarte, a cultura da automedicação constitui um grave obstáculo social e, sendo assim, medidas são imperativas, a fim de mitigar a questão. Nesse sentido, cabe ao Ministério da Saúde, em parceria com as esferas municipais, elaborar ações que contemplem o combate ao consumo independe de medicamentos, por meio de palestras com médicos e farmacêuticos, e apresentações culturais, com o fito de expor as consequências trazidas pela automedicação e, certamente, sob o viés lúdico, atenuar a problemática no território nacional, de modo a funcionar como um mecanismo de mentalização para o corpo social. Como resultado, ter-se-á uma sociedade mais justa, pautada no efetivo direito à saúde, conforme propõe a Constituição do país.