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Enviada em: 10/10/2018

Na Idade Média, tornou-se progressivamente destacável o uso de plantas medicinais, especiarias com propriedades terapêuticas e fármacos sem a orientação necessária, com o objetivo de combater as enfermidades que afligiam os tripulantes no contexto de insalubridade das Grandes Navegações. Mais de 600 anos depois, apesar dos avanços na medicina, a automedicação ainda é uma prática notória no convívio social, devido a aspectos culturais e a omissão de estratos da saúde pública.        Efetivamente, predomina, entre parte da comunidade, um paradigma deturpado em que a necessidade de acompanhamento médico para o uso de remédios é inferiorizada. A esse respeito, o sociólogo Max Weber defende o conceito "Ação Social Tradicional", segundo o qual os cidadãos se espelham em práticas frequentes da sociedade em geral para elaborar sua conduta. Nessa perspectiva, tal conceito sociológico apresenta contornos específicos no convívio social, pois, devido à baixa informatividade acerca das implicações oriundas da automedicação, o senso comum caracteriza os indivíduos como sujeitos autônomos na prescrição de medicamentos para consumo próprio. Em decorrência desse comportamento inadequado, tem-se consequências como intoxicações e superbactérias, explicitando a urgência de ações na esfera civil para solucionar essa problemática.       Ademais, a negligência do poder público no tocante aos índices de automedicação corrobora a manutenção dessa realidade. Embora a Constituição de 1988 considere a saúde como um direito de todos e um dever do Estado, o que se verifica é o não cumprimento do texto constitucional na prática, haja vista a dificuldade para receber atendimento nos postos de saúde, bem como a carência de fiscalizações em farmácias e de mecanismos para que a população denuncie os estabelecimentos nos quais a venda desses produtos seja facilitada. A título de ilustração, conforme o Instituo de Ciência, Tecnologia e Qualidade, o Brasil é considerado recordista mundial em tal prática. Dessa forma, a inexpressividade governamental representa, de fato, um empecilho à redução da automedicação.         Portanto, cabe à sociedade engajada desconstruir a cultura de autonomia relativa ao uso de medicamentos, mediante a atuação em ONGs empenhadas nessa temática, além de postagens educativas nas redes sociais e distribuição de livros socioeducativos, que explicitem os efeitos negativos da automedicação para a saúde dos indivíduos, no intento de possibilitar uma readequação do comportamento social e o uso orientado de fármacos. Outrossim, cabe ao Governo Federal melhorar o atendimento nos postos hospitalares, por intermédio de um maior repasse da União ao Ministério da Saúde, possibilitando a contratação de mais profissionais, bem como a criação de clínicas ambulantes e  de ouvidorias online de denúncia, no fito de orientar adequadamente a comunidade nesse assunto.