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Enviada em: 06/04/2019

"O Brasil não tem povo, tem público", disse Lima Barreto, crítico arguto de nossa República. Sob esse viés, hoje, pode-se afirmar que há muito alarde, mas pouco se faz para resolver questões urgentes como o exagero da automedicação - de consequências nefastas, haja vista que 10% das internações são causadas por esse abuso, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nesse contexto, faz-se necessário combater esse consumo desacerbado de remédios, cujos principais obstáculos dizem respeito ao deficitário sistema de saúde público e à facilidade em se adquirir fármacos. A priori, faz-se importante destacar o problema do deficitário sistema de saúde pública. Ou seja, as falhas na infraestrutura e a carência de profissionais nesse sistema leva grande parte da população a praticar a automedicação, como revela um levantamento feito pelo Instituto de Ciência e Tecnologia de Qualidade, realizada em 2016, o qual mostrou que 70% dos brasileiros se automedicam. Como consequência dessa realidade, tem-se um grande índice de pessoas intoxicadas pelo abuso de medicamentos. Ainda, segundo a Unicamp, esse exagero foi, em 2017, a principal causa de intoxicação no país. A posteriori, faz-se importante destacar a facilidade em se adquirir medicamentos no Brasil. Ou seja, a grande simplicidade em se conseguir comprar remédios sem receita médica contribui para o aumento da automedicação. Essa tese é defendida pelo presidente do Conselho Regional de Farmácia em Alagoas, Alexandre Correia, como uma das causas do abuso de fármacos. Isso resulta em uma população que possui acesso a muitas drogas, mas que não tem, necessariamente, a capacidade de administrá-las.       Portanto, medidas precisam ser tomadas com o objetivo de superar os obstáculos do consumo desacerbado de remédios. Para isso, o governo federal precisa investir recursos no sistema de saúde, a fim de extinguir suas carências de infraestrutura e de profissionais. Além disso, o legislativo deve endurecer a venda de medicamentos, por meio de leis, com o intuito de combater a facilidade em se adquirir fármacos. Somente mediante a adoção de tais medidas, o Brasil deixará de ter público para, enfim, ter povo.