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Enviada em: 11/05/2017

Modernidade líquida       John Locke, em um de seus escritos, afirmou que, ao viver em sociedade, o indivíduo é obrigado a se moldar aos seus contornos. Com um sistema de saúde deficitário e uma rotina em que o tempo livre é raridade, o uso de medicamentos sem prescrição se tornou uma saída para muitos. Desse modo, o surgimento da problemática dos efeitos da automedicação, a qual se encontra intrinsecamente ligada à realidade do país, se mostra consideravelmente nocivo à vida dos brasileiros.       Em primeiro plano, é indubitável que a questão constitucional e a sua aplicação estão entre as causas do problema. Consoante a Constituição nacional, todos são iguais perante à lei, independente de cor, raça e gênero, sendo a isonomia no acesso ao atendimento de saúde de qualidade também garantida por lei. No entanto, o que se observa em diversas partes do país é o alarmante sucateamento de hospitais e a grande demanda de pacientes para a baixa oferta de médicos e consultas. Esse fator, associado à falta de informação sobre os danos da problemática, resulta na criação do hábito da automedicação irresponsável.     Outrossim, destaca-se a sociedade de consumo em massa como impulsionadora dessa problemática. Segundo Zygmunt Bauman, a modernidade sólida está cedendo espaço a uma época de volatilidade, consumismo e artificialidade. A consolidação da lógica neoliberal trouxe consigo tanto a crescente necessidade de produtividade, que traz à tona resquícios do modelo fordista na forma de jornadas de trabalho exaustivas, quanto a busca pelo lucro das indústria farmacêuticas que utilizam o poder de alcance da mídia para difundir propagandas de seus produtos. Assim, trabalhadores sobrecarregados pela carga horária, ao conviverem com comerciais financiados por essas empresas, se tornam mais suscetíveis ao uso de remédios sem a orientação médica.          Torna-se perceptível, por conseguinte, que a automedicação é fruto do não cumprimento de preceitos constitucionais e das consequências do ideal capitalista. Logo, para modificar esse cenário, é dever do Governo Federal o investimento na expansão do Sistema Único de Saúde, com mais consultas domiciliares e programas sociais que levem profissionais da saúde para regiões mais pobres, com o objetivo de minimizar a desigualdade na obtenção de diagnósticos confiáveis. Ademais, os meios de comunicação podem promover campanhas educativas que mostrem os malefícios a longo prazo da utilização indevida de remédios, para que haja uma ampla conscientização. Dessa forma, quem sabe, poder-se-á, gradativamente, mitigar os danos dessa modernidade líquida.